No final do mês de julho, Mateus Lessa, o “Matu”, deu show e conquistou o título do San Diego Classic, o mesmo torneio que o jogador já havia alcançado o heads-up em janeiro. Com a vitória, o profissional faturou o prêmio de US$ 43.120.

Para alcançar o título, o jogador teve que superar uma decisão complicada. O brasileiro iniciou a mesa final com o menor stack e mostrou enorme habilidade para reverter o cenário adverso, conquistando o título. Foi a primeira vitória representando o São Paulo Futebol clube.

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A pedido do SuperPoker, o jogador separou 11 mão cruciais até chegar ao título da disputa. Confira:

Mão 1: primeira dobra

Após eliminação dupla, estava formada a Mesa Final do CPPT San Diego Poker Classic com nove jogadores. Com apenas 11 big blinds, achei que havia começado dando azar, já que no sorteio pra redefinir a posição do botão, o rapaz do seat 8 tirou a carta mais alta: começaríamos com o menor stack (660.000) e no big blind.

Após a ação rodar em fold, sem ter visto as minhas cartas, brinquei com o small blind, que possuía um enorme castelo, pra ele ter coragem e só foldar. Ele abriu raise pra 175.000, nos blinds 30.000/60.000, e quando olho minhas cartas tenho elas: QQ. Que sorte, estava pedindo pro malandro foldar!

Dou all in e sou pago de imediato pelo meu adversário que possuía AJs. Um A na janela deu um baita susto, mas passou rápido quando uma Q vermelha estava logo ao seu lado, me dando uma trinca e deixando meu oponente morto no turn 6. Melhor começo impossível!

Mateus Lessa – Evento 50A – WSOP

Mateus Lessa – Evento 50A – WSOP

Mão 2: segunda dobra, que parceirão!

Depois de dobrar meu stack, fui a quase 1.400.000 fichas, ainda no mesmo blind. No UTG+1, recebo TT e abro raise para 140.000 fichas. Sou pago pelo rapaz no cutoff e pelo big blind, os piores jogadores da mesa.

O flop vem muito bom 873 rainbow. O big pede mesa e eu, já tendo jogado muito com o rapazinho, arrisquei um check pra deixá-lo bem confuso. Como esperado, ele apostou 375.000 e foi pago pelo big blind.

Mantive meu plano e fui all in das minhas 1.350.000 fichas. Fui pago pelo amiguinho e o big foldou. Pra minha surpresa, ou não, ele tinha 66 e evitando o demônio (666) dobramos novamente em menos de uma órbita. Fomos a quase 3 milhões de fichas e já sabia que tinha “esquisitado”.

Mão 3: baita fold

Após a primeira eliminação, estamos 8-handed com três jogadores praticamente empatados em fichas no último lugar. O UTG+1, jogador sólido, mas que sabia o que estava fazendo, vai all in de 875.000, ainda nos blinds 30.000/60.000, mas prestes a mudar para 40.000/80.000. Todos foldam e a ação chega em mim no big blind e filo AJo.

Naquele momento eu tinha quase 3 milhões e após ponderar bastante, optei pelo fold já que poucas mãos que eu dominava iriam all in daquela posição e, caso eu errasse aquele call, toda minha jogabilidade adquirida iria para os ares na próxima mudança de blind. Depois do fold, o amigão me disse que tinha KQs e, como bom conhecedor de baralho, respirei aliviado e contente com o fold, mesmo na frente.

Mao 4: aqui não!

Já 7-handed, recebo ATs em paus do UTG 1. Abro raise pra 190.000 nos blinds 40.000/80.000 e sou pago pelo meu amigo do 66 no button. O flop vem AQ4, com todas as cartas de ouros, decido fazer uma c-bet de 290.000, ele paga rápido e vemos o turn, T de espadas.

Opto por dar check e ele pede mesa atrás pra vermos o river, um 6. Por valor, claro, aposto 475.000 e ele, sem pensar tanto, anuncia raise pra 1.400.000 de fichas, deixando 2 milhões para trás. Pensei, paguei e ele mostrou KQ pra um blefe malsucedido. Dessa forma, crescemos muito.

Mateus Lessa – Evento 22 – WSOP

Mateus Lessa – Evento 22 – WSOP

Mão 5: passa o resto

Já em segundo em fichas e com seis jogadores restando, os blinds já eram 50.000/100.000 quando abri raise no big do mesmo amiguinho para 225.000 com QJo. Ele pagou rápido e vimos um sonho acontecer: AKT foi o flop, com duas cartas de espadas.

Ele deu check e pagou bem rápido quando apostei 275.000. Vimos um 3 de copas no turn. Dessa vez carregamos um pouco mais, apostando 610.000 e novamente fui pago.

No river, um Q apareceu. Fiquei p… por achar que perderia action, mas não durou muito, porque meu colega foi all in e eu insta paguei com o nuts, já temendo um split, mas não, o colega atirou as cartas no muck desejando boa noite à todos e se despediu do torneio, nos deixando com todas as fichas que um dia foram dele. Amém.

Mão 6: 3-bet light

Essa não é nenhuma específica, mas nesse momento consegui explorar bem os stacks mais deeps pra usar algumas 3-bets a meu favor. A mais legal delas foi contra Eric Lindgren.

Ele abre raise do UTG para 275.000, já em 6-handed com 25bb, nos blinds 60.000/120.000, eu do cutoff fiz tudo 900.000 com QJo, ainda pra foldar tranquilo pro shove dele e de eventuais outros atletas. Esse aí passou, esse aí passou… Seguimos na coleta e na confiança!

Mão 7: cinema poker

Após a queda do Eric Lindgren em quinto, em um paradão muito louco, e a eliminação do quarto colocado num flip, estávamos no 3-handed nos blinds 80.000/160.000, quando uma das mãos mais legais que já joguei na vida aconteceu. Eu era small blind com pouco mais de 8 milhões de fichas, e a minha adversária no big blind tinha 15 milhões, o outro amigo tinha cerca de 6 milhões.

Recebo AA na última mão antes do break, o button folda e eu dou raise pra 420.000, sendo pago de imediato por ela. O flop vem A37 rainbow. Ruim né? Temos tudo, como fazer pra extrair fichas? Slow Play? Nunca. Parto pra c-bet de 375.000 e ela snap paga, pra vermos o turn: um K, abrindo um flush draw em espadas.

Beto novamente, agora 600.000 e aí começa o show. Ela separa mais fichas e anuncia raise pra 1.600.000. Confiro pra ver se não estou sonhando e lá estão os ases. Tendo 7.500.000 total em fichas sei que ela tem dois pares ou trinca, então a hora é essa: dou raise pra 3.500.000 e só agradeço quando minha oponente anuncia all in e se vê literalmente drawing dead com seu A3 para dois pares no flop. Cooler favorável!!

Mateus Lessa – Evento 26 – WSOP

Mateus Lessa – Evento 26 – WSOP

Mão 8: matando o terceiro lugar

O amigo que caiu em terceiro era imortal. Chegamos a ir all in duas mãos seguidas e ele dobrou em ambas, indo de 900k, nos blinds 100.000/200.000, pra perigosos cinco milhões de fichas.

A ação chega nele no small blind e ele abre raise pra 500.000. No big blind, com 74s (4+7=11 né…), pagamos pra ver o flop 947, com duas cartas de paus.

O adversário disparou outras 500.000 no pote e, como ele já estava com quase seis milhões nessa hora, optei por dar raise deixando espaço pra que ele cometesse um erro. Fiz tudo 1.600.000 e snap call no all in do companheiro. O jogador tinha KQs em paus pra um flush draw que dessa vez só não veio. GG pro brother que jogou muito bem e tínhamos um HU formado!

Mão 9: HU muy deep

Com 18 milhões contra 12 milhões, iniciamos o HU contra minha dura oponente na frente. Mas os blinds ainda eram 100.000/200.000 e uma longa batalha se iniciava.

A dinâmica começou meio morna, mas logo comecei a ganhar potes e ela se enjoou. Aí vem uma mão bem esquisita: os blinds já eram 125.000/250.000, ela completa do small blind. Segurando A8o, dou raise pra 800.000 e sou pago.

O flop vem A56 com duas cartas de espadas, apostei 900.000 e ela respondeu com all in! Nessa hora, a aposta dela correspondia a quase 10.000.000 de fichas! Pensei mais de dois minutos e acabei foldando, mesmo sendo HU e acertando o bicão. Não precisava ir pro gamble e arriscar o trabalho da noite toda. Ainda não.

Mão 10: blefão 72s

Com 72s em espadas, abri raise pra 700.000 e ela pagou. O flop veio lindo, 589, com duas cartas de espadas, apostei 850.000 e fui prontamente pago pela minha amiga, vimos um 3 de copas, naaaada a ver no turn.

Ambos pedimos mesa e vimos o board ser completo com outro 3, dessa vez de ouros. Flopamos tudo e acabamos com nada. No entanto, minha colega pediu mesa novamente e só tinha um jeito de ganhar. Não bastava apostar, tinha que machucar, fazer sofrer, fazer pensar muito e de preferência acabar em fold.

Soltei 2,2 milhões de fichas lá no meio e o fold rápido dela foi uma das melhores sensações do dia, o erro a deixava com mais fichas pela primeira vez no HU. Não, não mostrei! O ambiente tava top e a confiança foi lá em cima- não precisava.

Mão 7+4 = 11 = título

Com 74 de copas, paguei o raise de 750.000 da minha amiga e vimos o flop 874 com flush draw em paus. Ela apostou 800.000, eu dei raise pra 1.900.000 e apenas esperei o all in. A adversária ainda ponderou mais um pouco até anunciar que estava all in e ser prontamente paga.

Mateus Lessa é campeão do CPPT Ocean Eleven San Diego Classic

Mateus Lessa é campeão do CPPT Ocean Eleven San Diego Classic

Ela tinha A8 e não encontrou ajuda. Um 4 ainda completou um full house no river e decretou: 11 campeão e o São Paulo Futebol Clube e no topo!