Por Flora Dutra
A grinder Marcella Camargo, conhecida no PokerStars pelo nick “MenininhaMah”, contou, para o Pocket Poker, parte de sua história cheia de lutas e conquistas dentro do universo do game. A coluna desta semana fala sobre a vida; em meio ao caos da pandemia mundial e o aumento da alta demanda do poker online, Marcella resgata a própria trajetória de batalhas, sempre pronta a dar o melhor de si, agora acompanhada pelo pequeno Miguel, seu filho recém-nascido.
Durante meu bate-papo com a MenininhaMah, ela contou que conheceu o poker na sala do Departamento de Física; ela jogava com amigos e colegas (lembrando que, no Brasil, a Física é uma área que tem um índice baixíssimo de mulheres). O contexto em que Marcella conheceu o poker já demonstra uma ruptura com estereótipos masculinos predominantes em nossa sociedade. Ela conta que foi vendo as regras e se apaixonando: “jogávamos na época torneio de 5 e 10 reais, era muito legal. No 7º período da faculdade eu jogava mais poker do que estudava”.
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Nos relatos da poker player percebe-se uma educação rígida, em casa; desde quando era mais nova, ela devia cumprir deveres e obrigações, como cancelar suas telas e desligar o computador à meia-noite. Mesmo se ela estivesse em alguma reta ou FT, o computador de Marcella era desligado, pois deveria manter uma rotina imposta pela família. Mais uma vez, ela estaria pronta para quebrar algumas barreiras. Ela chegou a trocar de Estado para ter tempo de concentração, foco e estudos; nessa época, jogava pelo bitB Brazil e revela não ter estado preparada o suficiente, nesse período. A mudança teve consequências de adaptação ao novo time, nova cidade, rotina e a saudade.
Antes de sair da casa da família, Marcella Camargo ganhou $10k; ajudou o pai a pagar todas as dívidas e contas da casa ajudando os irmãos recém-nascidos. MenininhaMah desabafa sobre os períodos de downswing que enfrentou sozinha desde então, “existe a variância e nós não podemos ignorá-la. Quando você depende exclusivamente do poker e não é de uma família rica (eu sou de uma família humilde), então fica um pouco mais difícil de você não se abalar com períodos de downswing. Futuramente, eu pretendo ter algum negócio, ainda mais agora sendo mãe, tem outra pessoa que depende exclusivamente de mim, a cabeça da gente muda um pouco”.
A depressão, o poker e o Miguel
Marcella conta que passou por uma depressão profunda e diz que os remédios a deixavam cansada. Ela relata que, depois de perder a vontade de interagir com outras pessoas, uma conversa com sua psicóloga foi fundamental para que mudasse de vida. A saída foi mergulhar de cabeça no universo do poker: “depois que eu saí do bitB Brazil, acabei entrando para o Full Poker Team. Os caras ‘tão’ sempre procurando estar no topo, ali sou estimulada a ser uma melhor versão de mim e inspirar pessoas”.
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Sobre a maternidade e o poker, muitas pessoas acreditam que mulheres grávidas ou mães com bebês não podem jogar mais poker; Marcella desmente esse preconceito ao afirmar: “Eu grindo com o Miguel no colo, praticamente, porque eu moro sozinha. Minha mãe me ajuda no que pode porque ela cuida da nossa vó que é acamada, ela se desdobra pra poder me ajudar. O Miguel é completamente dependente de mim e isso é uma coisa nova que estou lidando, é bem cansativo, não é fácil. Esses dias eu ‘tava’ numa FT e tive que pegar ele no berço; essas coisas são inéditas pra mim ainda, e embora alguns acreditem que a gente perde o foco, isso me dá mais forças, muita vontade de ser melhor, de ser melhor jogadora, de ser uma melhor mãe. Eu quero que ele cresça admirando a mãe que tem. É desafiador, mas só de pensar que eu tenho o privilégio de ter o meu filho em casa, que meu trabalho é home office, e ele está ali o tempo todo, só poder acompanhar o crescimento dele nessa fase é maravilhoso. Podemos fazer tudo que quisermos, as mulheres têm uma força incrível. Mulheres que tem medo de ter filhos porque grindam, não tenham! Tudo vai dar certo. Só focar, montar um plano, metas e seguir da melhor forma possível. O Miguel tem menos de 2 meses, e logo será possível estabelecer novas rotinas, tudo é adaptação”.
Marcella conta que, hoje, o Miguel é a força motora para sempre ir se mantendo no alto nível do jogo; ela diz, ainda, que o método DeRose tem ajudado a ter uma rotina melhor e mais consciente. Sobre as últimas mudanças e transformações, a grinder revela sua paixão pelo esporte: “o poker está em constante evolução e, como pessoa, foi um divisor de águas na minha vida. Sou uma outra Marcella depois do poker. Eu nunca mais tomei remédio antidepressivo, e por isso eu sou imensamente grata”. Que a nossa MininhaMah continue brilhando nos feltros online e que em breve o nosso Miguelito já possa dar os primeiros passos! Avante, menina! Semana que vem voltamos.