André Marques escreveu o nome na história do poker mundial na última quarta-feira (23). O português foi campeão de um dos torneios mais prestigiados dos feltros virtuais, o Main Event do WCOOP (World Championship Of Online Poker). Com o feito, o profissional alcançou a forra milionária de US$ 1.147.270,06, após um acordo no 3-handed, o maior resultado da carreira.

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A jornada até o título não foi nada fácil. Após dar duas entradas no domingo, o jogador ficou sem bankroll para tentar uma última vez. A segunda reentrada no torneio só foi realizada faltando um minuto para o fim do late register.

Assista à entrevista completa de André Marques ao SuperPoker:

“A ficha caiu mais ou menos. No dia não tinha caído, mas hoje já caiu um pouco. De resto, continua tudo igual”, brincando o jogador comentou o que mudou com o título. “Disse isso para um amigo que é a mesma coisa, a diferença é que agora todos me tratam como campeão”.

Com a classificação para a mesa final, a cidade de Lousada, local em que André mora, parou para acompanhar e torcer. “Foi incrível, toda minha família estava vendo, em Portugal, inclusive na cidade em que eu vivo, na vila. Colocaram a live em cafés, bares e etc, para torcerem por mim. Foi incrível, inacreditável”.

A carreira do português foi meteórica. Em 2016, após voltar da balada, se inscreveu para participar do time micro da Polarize e foi aceito. Em menos de quatro anos começou a jogar os principais torneios do poker online.

O profissional destacou a importância dos coachs para o seu resultado. “Eles são meus mentores, quase os considero como pais, pois me ajudaram muito”, contou o jogador. “Tiveram muita paciência comigo, foi preciso, pois eu não era uma futura promessa, era muito baladeiro, não era muito empenhado naquilo que fazia. Eles foram pacientes, acreditaram, as coisas foram acontecendo e deram resultados”.

No bate papo, André Marques ainda falou sobre seu relacionamento com os brasileiros, a qualidade dos jogadores portugueses e as viagens para a Holanda em meio a pandemia. Confira:

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Como foi a sua trajetória no poker?

Comecei a jogar poker com 16 anos em home games com os amigos e um torneio ou outro que acontecia por aí. Nesse período comecei dando os primeiros passos no online, mas em freerolls e dinheiro fictício porque ainda não tinha feito 18.

Fui seguindo dessa maneira até chegar na faculdade. Por volta dos 20 ou 21 anos, seguia nos freerolls e jogava Sit & Go de US$ 0,10 e 45 pessoas US$ 0,50, até que o mercado fechou em Portugal. Deixei o poker por cerca de um ano e meio, mas ainda disputava eventos live, na maioria home games, não jogava torneios maiores porque não tinha bankroll.

André Marques levou uma forra milionária com o título

Quando o poker voltou a abrir, voltei a jogar € 10 e € 20 para começar um bankroll novo. Fui grindando, nenhum prêmio especial, mas me ajudava na faculdade e para umas saídas. Até que um dia surgiu uma publicidade da Polarize Poker e eu não tive coragem de enviar minha inscrição, imaginei que nunca ia entrar, mas um dia que vim da balada, estava meio louco (risos), ganhei coragem e enviei. Fui aceito e entrei para a equipe de micro, isso em 2016.

Qual foi a reação da família quando falou que ia optar pelo poker e abandonar a faculdade?

Estudava Engenharia da Informática. No início, tentei conciliar a faculdade com o poker, por mais ou menos um ano, mas depois decidi me profissionalizar e deixei a faculdade em stand-by, e está até agora assim.

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Já com a minha família, eu dizia há muitos anos que queria me profissionalizar no poker, mas nunca era nada sério até o momento que assinei o contrato com a Polarize. Eles perceberam que as coisas se tornaram mais sérias e tive bastante apoio, mesmo lá no início.

Você citou que disputou alguns torneios quando o poker online fechou em Portugal. Como foi esse período para você?

Pra mim, ao contrário de todos profissionais portugueses conhecidos, não me afetou muito, pois naquela altura era um recreativo que grindava Sit & Go micro. Não senti grande diferença, me juntava na sexta-feira e nos sábados para os home games com os amigos, simplesmente para ganhar um troco.

Como é em quatro anos sair do micro stakes e se tornar campeão do Main Event do WCOOP?

Foi bastante incrível. Joguei micro bastante tempo, durante um ano e meio, já que eu conciliava com a faculdade não tive tanto progresso. A partir do momento que me profissionalizei, tive uma downswing grande, foi algo de sete meses. Para jogador micro era muito, pois não estava financeiramente preparado para isso, mas tive ajuda dos meus pais.

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Neste momento me deu um “clique”. Isso aconteceu no final de 2018, e logo no início de 2019 consegui um prêmio grande na época, foi coisa de € 17 mil. Com ele consegui pagar meu make-up e ganhar um dinheiro. Segui trabalhando, as coisas foram acontecendo muito bem, segui subindo os stakes e hoje estou onde estou. Não consigo acreditar ainda.

O Main Event você efetuou o buy-in direto?

Sim, dei três entradas. A última foi faltando um minuto para o fim do late register. Estava preparado para jogar no domingo, pois na semana passada eu levei mais de US$ 140 mil ficando na terceira colocação em um torneio de outro site. Até esse resultado estava perdendo bastante, porque estava jogando caro e esse resultado já havia dado um alívio.

Com isso, o “Zagazaur” [Filipe Oliveira] me autorizou a jogar o Main Event. Dei duas entradas no domingo, mas acabei ficando sem bankroll para um terceiro buy-in. Mandei mensagem para ele na segunda-feira. “Posso ir? Entro mais uma vez com 20 big blinds”. Ele me disse para ir e consegui a escalada.

Como foi a trajetória até o título?

Começou muito mal, mas consegui ir dobrando, as coisas foram acontecendo e consegui cair em mesas mais fáceis para o nível do buy-in, principalmente no Dia 2 e 3, foram mesas muito boas. Sentia que estava preparado, era um torneio como outro qualquer, o tempo foi passando e eu seguia lá.

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Como é a preparação para uma mesa final tão valiosa? Como foi a noite anterior?

Eu tive um ponto positivo que foi conseguir essa deep run na semana anterior, me preparei muito para ela e lembrava de muita coisa. Com isso, para essa decisão estava menos nervoso. Não era aquele sentimento exagerado, mas estava com um turbilhão de ideia na cabeça, mas para essa dormi muito bem.

No dia seguinte, fiz minha rotina normal. Acordei, tomei um banho, almocei, fiz um warm-up de revisar alguns spots e depois fiz meia hora de mentalização, imaginando todos os resultados possíveis e aceitar qualquer que viesse. Curiosamente, até tive aula nesse dia, o que me ajudou bastante e fui jogar. O que tivesse que vir, vinha e graças a Deus veio o melhor possível.

Já caiu a ficha do resultado?

Mais ou menos. No dia não tinha caído, mas hoje já caiu um pouco. De resto, continua tudo igual. Disse isso para um amigo que é a mesma coisa, a diferença é que agora todos me tratam como campeão.

André Marques

Como foi a repercussão do título?

Foi incrível. A Polarize estava toda torcendo, toda minha família estava vendo, em Portugal, inclusive, na cidade em que eu vivo, na vila. Colocaram a live em cafés, bares e etc, para torcerem por mim. Foi incrível, inacreditável.

Como é a rotina de ir para outro país para disputar uma série? Quando você está em Portugal joga? Quais são os momentos que você escolhe para ir para outro país jogar no PokerStars?

Normalmente é sempre nas séries. Nunca vou sozinho, sempre vou com alguns colegas de trabalho. As séries são obrigatórios, todos os “COOP”, WCOOP e SCOOP. Os demais períodos eu passo me dividindo entre lá e cá.

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Quando estou em Portugal, normalmente eu não jogo, é bem raro. Estar aqui é basicamente quando estou de férias ou focando mais nos estudos e dar aulas, porque eu também sou coach do time.

Efetuar a última entrada na reta final do late register, tira um pouco a responsabilidade na reta final, já que por pouco você ficou fora do torneio?

Não, porque no domingo, quando fiquei sem bankroll após minha segunda eliminação, lembro de ter ficado um pouco triste, mas ainda tinha muitos torneios para jogar no domingo, por isso a ideia passou rápido. Já tinha pensado em falar com o Filipe para tentar uma última vez, a única diferença é que quando ele falou que sim, a minha sessão ficou um pouco mais animada, fiquei mais à vontade em jogar. De resto, foi tudo igual, pois era mais um torneio.

Você já falou que era apenas mais um torneio, mas no Dia 3 e mesa final, jogou outras telas simultaneamente ou optou por focar apenas no Main Event?

Eu já tinha planejado acabar o grind na segunda-feira, pois era o último dia que dava para se registrar no WCOOP, eventualmente, se tivesse algum Dia 2, jogava na terça-feira. Então, só joguei aquela mesa, porque além de ser caro era muito EV para meu ano, principalmente a mesa final. Pensei que abrir mais telas não compensava, decidi ficar só nele e abrir outras mesas para pegar informação de outros adversários que estavam jogando a reta final.

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Como você avalia essa reta final do WCOOP com nomes muito conhecidos do esporte e uma intensa disputa na decisão?

Foi uma batalha longa. Já estava imaginando que isso aconteceria, porque entramos na mesa final muito deep, tinha quatro short stacks, mas os três maiores estavam com muita ficha. Tinha essa expectativa de ser um 4-handed longo e deep, já tinha preparado para isso acontecer.

Quando ficou só três, foi uma outra batalha, principalmente contra o Teun Mulder, tivemos umas mãos interessantes, umas que considero que errei, até que grave, mas consegui me manter focado, ainda mais quando fiquei short no 4-handed, mas dei a volta por cima e tudo acabou bem.

Nesse momento que você ficou com menos fichas no 4-handed, chegou a passar aquele pensamento negativo da vitória escapar?

Por acaso não, pois eu me preparei muito para desfrutar do dia que era. É uma oportunidade única para qualquer jogador, aproveitei ao máximo e lembrei de como nós, jogadores de poker, somos sortudos. Estava aproveitando ao máximo, mas é claro, com foco.

Quando fiquei short, sempre passa esse pensamento, mas foi muito rápido, pensei comigo. ‘Calma, ainda temos 15 blinds para trabalhar, já garantimos uma boa premiação, um marco’. Creio que isso me ajudou bastante a tomar decisões e realmente fez diferença.

Nesse período da pandemia, com grandes séries acontecendo, você ficou todo o período na Holanda?

Foi bastante confuso. Eu consegui ir para a Holanda antes, sem saber, e tive que fazer a quarentena por lá. Quando as coisas começaram a abrir eu já voltei para Portugal, porque queria muito estar em casa.

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O seu primeiro registro no PokerStars foi no ano passado. Pode comentar porque foi algo teoricamente recente?

Eu comecei a jogar só em Portugal, nas salas portuguesas. Depois com o tempo, quando comecei a ter uma disponibilidade financeira e capacidade para ganhar os stakes que estamos jogando, fui para outro país. O ano passado foi a primeira vez que fui para a Holanda, isso também envolve as responsabilidades que havia com a faculdade, por isso meu registro é do ano passado, quando comecei a jogar na sala e viajar mais regularmente para lá.

Já estava jogando alguns stakes, não era muito caro, era US$ 215 até US$ 530 e já compensava. Porque ir para lá tem alguns custos e foi nesse momento que compensava para jogar no PokerStars.com.

Os jogadores portugueses estão acumulando grandes resultados. Como você vê essa força do poker em seu país?

O poker português tem muita qualidade. Isso já foi dito em diversas entrevistas, mas é a pura verdade. É um número considerável de jogadores em alto nível para a população que temos e isso vem se provando nos últimos anos. Tenho certeza que quanto mais o tempo passa, mas damos provas disso também.

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É praticamente impossível nos últimos anos falar das principais séries e não falar dos resultados dos portugueses. Com o tempo, tenho certeza que as coisas irão melhorar ainda mais com nomes que vocês ainda não conhecem, pelo menos fora de Portugal, e os títulos vão continuar aparecendo.

O seu avatar no PokerStars é uma montagem com o rosto do Filipe Oliveira e um lutador. Como é a sua relação com ele e o Rui Ferreira?

É muito boa. Eles são meus mentores, quase os considero como pais, pois me ajudaram muito. Não só eles como Diogo Cardoso, que também é um dos fundadores da Polarize, Fernando Ferreira, um dos coachs, tem mais gente, são muito meus amigos, me ajudaram muito no meu início, são mais experientes.

Eles tiveram muita paciência comigo, foi preciso, pois eu não era uma futura promessa, era muito baladeiro, não era muito empenhado naquilo que fazia. Quando conciliava com a faculdade, gostava muito de ir para a balada. Eles foram pacientes, acreditaram, as coisas foram acontecendo e deram resultados.

Pensa em alguma oportunidade trocar o grind da série na Holanda pelo Brasil?

Era uma das coisas que ia acontecer esse ano. Estava planejado de eu ir para o Brasil em maio para jogar o SCOOP, íamos para Florianópolis e com os rumores do COVID, optei por ir para a Holanda. O Rui e o Filipe foram agora em setembro, mas eu fui um pouco mais precavido e optei por ficar, não quis arriscar. Mas é um dos objetivos sim, provavelmente nas próximas séries. Quero ir ao Brasil, conhecer o país e experimentar o fuso horário.

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Você joga em um time que tem muitos brasileiros. Qual a sua relação com eles?

Eu me dou muito bem com todos os brasileiros, mas sou mais próximo daqueles que entraram junto comigo na Polarize como o Romulo Barreto, Christian Almeida, tem vários e me dou bem com todos. De forma geral, o poker no Brasil tem muito potencial, com muitos jogadores muito bons.

Excluindo os jogadores da Polarize, tem outros jogadores brasileiros que você admira?

Existem vários jogadores que eu respeito, são muito bons. Eu sigo bastante nas redes sociais como o “Cavalito” [Alexandre Mantovani], Yuri Martins, pois gosto de ver. Recentemente, vi o Pokercast do Leonardo Mattos, também gostei bastante e por isso comecei a segui-lo nas redes sociais. Não tem aquele jogador que me faz sentir intimidado, porque normalmente não me intimido com meus adversários, tenho respeito, mas se estou lá sentado é para superar qualquer um.

Você citou que era um jogador que gostava muito de balada. Ainda gosta de ir ou você opta por se preparar melhor para o grind?

Eu fui obrigado a mudar para chegar aos meus objetivos como jogador. Venho trabalhando com uma psicóloga da Polarize, devo muito a ela, pois lhe dei muita dor de cabeça. Com o tempo fui mudando e adaptando minha vida, por exemplo, hoje é impossível eu ir para a balada aos sábados, sabendo que no domingo eu vou para o grind ou uma sexta-feira tendo ciência que irei jogar no dia seguinte.

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Continuo gostando sim de sair sim, mas prefiro deixar para momentos mais tranquilos, como nas férias. Tem tudo haver com os objetivos que queremos alcançar, temos que fazer nossas escolhas.

O que muda na carreira de um jogador conquistar um resultado como esse?

Eu não vou falar financeiramente, porque já estava confortável em relação a isso, claro que isso me deixa ainda mais tranquilo, mas agora o pessoal vai falar mais o meu nome, acabo me tornando mais um nome citado, uma espécie de embaixador. É uma responsabilidade que terei que encarar, pois as pessoas vão criar expectativas, isso não é bom, mas acontece. Vou trabalhar e tentar estar à altura para corresponder.

Pretende ser mais presente nos torneios high stakes do poker online?

Eu não tenho como objetivo jogar torneios de US$ 100 mil, pelo menos não em um futuro próximo. Vou continuar jogando os mesmos stakes, pois tenho muito trabalho, claro, será mais fácil aparecer em torneios de US$ 5 mil ou US$ 10 mil, manter a regularidade nos eventos de US$ 500 e US$ 1.000, mas nada acima disso.

Quais os sonhos na carreira como profissional de poker?

Eu não pensei muito nisso ainda. A primeira coisa que me vem a cabeça é Las Vegas, porque eu nunca fui. Mais uma vez, era algo que estava planejando para esse ano. De resto, eu já joguei os principais EPT’s, mas gosto muito de jogar live, até gosto mais do que deveria, pois a prioridade tem que ser online, mas se tem um torneio bom e tenho autorização para ir, eu vou para viajar um pouco. Agora, temos que esperar o fim de tudo isso que está acontecendo, que as coisas voltem ao normal.

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Você quer oferecer essa vitória para alguém?

Pode ser clichê, mas queria agradecer aos meus pais, minha namorada e minha família pelo apoio. As pessoas que me apoiaram em Portugal, pois isso traz muita coisa boa e vontade de fazer cada vez mais, de conquistar mais coisas. Em especial a Polarize Poker, todos os coachs e membros que me ajudaram a evoluir, eles sabem que são, não preciso ficar citando nome por nome. Esperem que vão ouvir falar muito de mim.

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