Gustavo Mastelotto já era um nome muito conhecido e respeitado no poker mundial. Entretanto, na última edição da WSOP Online, o jogador conquistou o objeto mais desejado de todo profissional: o bracelete. O jogador foi o grande campeão do Evento #11 da WSOP, conquistando o 21º bracelete da história do país.

Repetindo o que aconteceu com a maioria dos profissionais, o seu primeiro contato com o esporte foi assistindo um dos momentos mais marcantes da história do poker. “Meu primeiro contato com o poker foi assistindo pela ESPN junto com meu pai, o [Chris] Moneymaker vencer a WSOP, nem sabia as regras direito e fui começar a jogar mesmo muitos anos depois, mas ali era algo mágico”.

VEJA MAIS: Bem pago? “Chip porn” revela caixinha de Negreanu após forra milionária

O jogador revelou um momento marcante que teve com sua esposa na reta final da disputa. “No último break, quando estava no heads-up estava sentindo ‘borboletas no estômago’, olhei para Jessica [Maier] e comecei a rir por causa disso, então, ela falou. ‘Isso é ótimo! Vai lá e desfruta esse momento, você merece!’. O “22ehnutzz” do online seguiu à risca o conselho da companheira. “Voltei muito focado em jogar cada mão da melhor maneira possível e fechar o torneio. Ao longo das mãos me lembrava do conselho e abria um sorriso, acredito que consegui desfrutar o jogar um heads-up valendo um bracelete, enquanto mantinha um foco muito grande para executar o meu melhor”.

Gustavo Mastelotto no EPT Monte Carlo

O campeão dividiu a decisão com mais quatro brasileiros: Guilherme Vigário, Gabriel Schroeder, Paulo Pavim e Felipe Morelli. “Para mim, o Brasil é o país número 1 do poker mundial e só não temos mais jogadores jogando high stakes por uma questão de moeda, cultura e, principalmente, tempo”, e seguiu criticando a falta de destaque dos compatriotas nas mídias internacionais. “Quando comecei a jogar, em todas mídias internacionais, sequer o brasileiro era citado, ainda hoje parece um pouco que a mídia internacional não quer dar o braço a torcer, o Brasil dominou geral, mas calma, o tempo vai mostrar para eles algo que a gente já sabe [risos]”.

VEJA MAIS: Forra ou ferro? Daniel Negreanu abre saldo da década, e números impressionam

Na conversa, o jogador também falou da importância do Ninetales em sua carreira e explicou os motivos que o levaram a deixar o projeto. Confira a entrevista completa com Gustavo Mastelotto:

Você já havia conquistado outros hits importantes na sua carreira, mas qual o sentimento de se tornar campeão mundial?

Foi algo surreal, só consegui me sentir extremamente grato e abençoado de correr bem, exatamente neste torneio com toda magia da WSOP. Meu primeiro contato com o poker foi assistindo pela ESPN junto com meu pai, o [Chris] Moneymaker vencer a WSOP, nem sabia as regras direito e fui começar a jogar mesmo muitos anos depois, mas ali era algo mágico. Vencer um campeonato mundial e ser coroado com um bracelete era algo que já naquele tempo me encantava!

Gustavo Mastelotto foi o 21º brasileiro a conquistar um bracelete (Foto: Diego Jarschel)

Demorou muito para cair a ficha? Como foi sua reação ao se sagrar campeão?

Eu estava muito ciente sobre o que estava em jogo, inclusive fiz ajustes na mesa final visando uma maior probabilidade de vencer o torneio ao invés de maximizar o EV financeiro da mesa final em si, algo que é natural para um profissional. No último break quando estava no HU estava sentindo ‘borboletas no estômago’, olhei para Jessica e comecei a rir por causa disso, então ela falou. ‘Isso é ótimo! Vai lá e desfruta esse momento, você merece!’ Voltei muito focado em jogar cada mão da melhor maneira possível e fechar o torneio. Ao longo das mãos me lembrava do conselho da Jessica e abria um sorriso, acredito que consegui desfrutar o jogar um heads-up valendo um bracelete, enquanto mantinha um foco muito grande para executar o meu melhor.

VEJA MAIS: Laura Cintra conquista vice-campeonato no NLH Turbo 1-Day do Enjoy Poker Tour

Quando o torneio acabou, no mesmo instante começou a tocar o hino do Brasil e ali só reforçou a importância do que tinha acabado de acontecer, chamei a Jessica e nos abraçamos emocionados. Em seguida liguei para meu pai num FaceTime, ele estava muito feliz e, quando lembrei ele de quando vimos a WSOP juntos pela primeira vez na ESPN, ele começou a chorar de emoção. Meu sentimento de gratidão só aumentou, isso me marcou muito na verdade, pois alguns dias antes meu pai se orgulhou de mim falando para alguns amigos que eu sempre sonhei ser jogador de futebol e que no fim eu me tornei um jogador, não foi de futebol mas eu tinha me tornado um jogador de poker incrível.

Em seguida e nos dias seguintes recebi uma enxurrada de mensagens de muito carinho e amor da família, amigos e grande parte da comunidade do poker brasileiro. Sou imensamente grato por cada mensagem e todo carinho das pessoas por mim.

Teve algum momento marcante na trajetória até o título?

Acredito que o momento mais marcante foi na reunião da RegLife na manhã de segunda feira. O Guga [Gustavo Fakri] ou o Léo [Leonardo Bréscia] soltou. ‘VAMO 22, vi que passou chip leader para o dia 2 do evento WSOP!’. Aí eu falei ‘Passei sim, mas lembrem que faltam 71 ainda, qual minhas chances reais de braceletar a parada?’. Aí o Yuri começou a refletir na minha probabilidade de título e lançou. Deve ser cerca de 3,5% vai…’. E eu de bate pronto já mandei. “Isso é coisa pra car…, me sentindo bem demais com essas chances! [risos]’.

VEJA MAIS: Marcelo Migliaccio vira heads-up e crava High Roller do Enjoy Poker Tour

O legal foi que isso ficou na minha cabeça, a cada break eu me perguntava quais eram minhas chances de vencer o torneio, foi algo que nunca tinha feito antes, mas foi divertido e também mostrou para mim o quanto precisamos valorizar um título, pois de fato é algo difícil de se conquistar. E por fim a mão decisiva, A no turn, brick river quebrando o 77 do lituano para soltar o grito de campeão.

Você dividiu a mesa final com outros quatro brasileiros. Como você vê esse atual momento do poker brasileiro?

Da melhor forma possível. Para mim o Brasil é o país número 1 do poker mundial e só não temos mais jogadores jogando highstakes por uma questão de moeda, cultura e principalmente tempo. Se analisarmos de cinco anos para cá, vemos que a cada ano o número de jogadores brasileiros jogando limites maiores só aumenta e não vai parar de aumentar, pois amam o jogo e têm muita fome de aprender.

VEJA MAIS: Bad no river e gritaria: streamer fica maluco e ensurdece audiência

É muito foda ver e fazer parte disso. Quando comecei a jogar, em todas mídias internacionais, sequer o brasileiro era citado, ainda hoje parece um pouco que a mídia internacional não quer dar o braço a torcer, o Brasil dominou geral, mas calma, o tempo vai mostrar para eles algo que a gente já sabe [risos].

Gustavo Mastelotto dividiu a mesa final com mais quatro brasileiros (Foto: Diego Jarschel)

O título vem em um momento novo na sua carreira, poucos meses depois de sair do projeto do Ninetales. Tem um significado diferente essa conquista por causa desta nova etapa?

Não divido minha carreira em etapas, na verdade tudo é uma continuação de um trabalho que vem sendo feito há anos. Certamente dividir essa vitória com um grupo seria muito mais prazeroso. É da minha natureza estar dentro de uma comunidade, como foi lá atrás com o 4bet Poker Team, depois o Full Poker Team e, agora, a RegLife. Como não temos controle sobre tudo em nossa carreira, apenas sou grato pelo que recebi desses monstros e sigo trabalhando duro para conquistar ainda mais.

Qual foi a importância do Ninetales nesse título?

Enorme! Foram dois anos aprendendo com os melhores do mundo, progredi massivamente em vários âmbitos de minha carreira, me tornei muito melhor como jogador de poker e pessoa, pois conviver com eles me ajudou muito nisso também. Só tenho gratidão por cada um deles.

Você poderia dizer os motivos que o levaram a deixar o projeto?

Me esforcei muito para dar continuidade no trabalho com eles, mas não foi possível. Não consegui vencer nas transições de buy-ins nesse período, em vários momentos tive dificuldades em lidar com isso, me cobrava muito todos os dias, houve alguns momentos de grande pressão interna e, naquele tempo, não lidei da melhor maneira.

VEJA MAIS: Yuri Martins garante lugar na mesa final do Super MILLION$; confira

Talvez, hoje já conseguiria lidar muito melhor, mas olho para frente, entendi que cada pessoa percorre sua jornada no seu tempo. Sempre buscarei os caminhos que me vão me levar a me tornar mais como pessoa e os high stakes cada vez mais se mostram a rota para isso.

E para finalizar, somente carinho e gratidão por todo 9tales. Minha relação com todos é excelente, acabo de passar 12 dias jogando as séries em Andorra com o Bruno Volkmann. Sou sócio do Yuri na RegLife e convivo semanalmente com ele trocando muito conhecimento além da forte amizade com todos membros.

Gustavo Mastelotto deixou o projeto do Ninetales no primeiro semestre de 2022 (Foto: Diego Jarschel)

Além do projeto, você ainda divide o projeto da RegLife com o Yuri Martins. Qual a importância dele na sua carreira?

Muito grande! Me sinto realmente um privilegiado em estar semana após semana convivendo com ele e aprendendo constantemente. Não é só sobre poker, me desenvolvi e sigo me desenvolvendo muito como pessoa tendo ele ao meu lado.

Para encerrar, quer oferecer para alguém essa vitória?

Para toda minha família, amigos e as pessoas que me ajudam dia a dia na jornada, essas pessoas formam um time incrível que tenho o prazer de fazer parte, cada uma delas com um papel muito importante. E o oferecimento especial dessa vitória é para minha esposa e companheira maravilhosa Jessica!

Confira o último episódio do Pokercast: