Há alguns anos, no auge do poker online, era comum ver jogadores, inclusive estrangeiros, usando a foto de Caio Pessagno como perfil. Ao mesmo tempo, o nick “pessagno” assombrava os regulares de torneios, já que o jogador figurava frequentemente entre os primeiros no ranking do PocketFives.
Os resultados não eram o único fator de destaque do brasileiro. Pessagno ficou conhecido pela sua excêntrica estratégia jogando short stack, que envolvia dar raise/fold com stacks pequenos, menores até do que 10 big blinds. Apesar de ir contra muitas das literaturas técnicas do jogo, a estratégia era, indiscutivelmente, efetiva.
A carreira do brasileiro foi sempre marcada pela regularidade, o que fica claro quando se analisa que, com mais de US$ 6 milhões em premiações online, o maior prêmio de Pessagno nos feltros virtuais foi de US$ 120 mil. Ou seja, mesmo sem premiações gigantescas, ele construiu uma trajetória de muito sucesso.
No auge da carreira, Pessagno sofreu com problemas familiares e se afastou do meio do poker, deixando muitos fãs se perguntando sobre o craque. De volta ao grind, o jogador está realizando a Copa Pessagno, uma série de freerolls no 888poker que procura dar a todos os jogadores a oportunidade de construir um bankroll.
Em entrevista exclusiva ao SuperPoker, ele falou sobre a Copa, o retorno ao poker, a importância do apoio da família e muito mais. Confira.
De onde surgiu a ideia de criar a Copa Pessagno?
A Copa Pessagno veio da ideia de celebrar o poker de uma forma que atingisse o máximo de pessoas. Celebrar no sentido de divulgar um conteúdo, fazer a nossa parte diante da comunidade. No freeroll, a gente consegue o maior objetivo, que é educar essa nova geração que está chegando e dar oportunidade para eles, a mesma que eu tive. Eu sou muito grato em relação ao poker e quando você está em uma condição de promover um evento desses, convencer os sites a fazer, divulgar, uma situação em que todo mundo ganha, não tem como não fazer. Ano passado foi muito top e esse ano está sendo também, a tendência é só aumentar os prêmios, a quantidade de informação, e cada vez gerar uma energia mais positiva.
Você ficou famoso pelas táticas excêntricas, principalmente quando short stack. Como vê o uso desse tipo de estratégia no poker online de hoje?
É muito engraçado que as coisas mudaram muito desde a época que eu comecei a fazer isso. Hoje, a grande maioria usa essa mesma estratégia, então basicamente é uma estratégia muito efetiva. É claro que, a medida que o buy-in sobe, ela acaba não sendo tão efetiva, porque é muito difícil explorar os caras bons a partir do momento que eles têm a informação que você está dando raise/fold com ‘x’ blinds ou menos. Então ela é efetiva nos buy-ins de US$ 55 para baixo, e nos buy-ins acima acaba sendo menos efetiva. Definitivamente, esse jeito de trabalhar o short stack, como falo para os meus alunos, “na ponta dos dedos”, continua sendo muito efetiva nos limites mais baixos. O grande segredo para essa estratégia, hoje, é você entender bem a imagem que você passa. O vilão sabe que você faz esse tipo de jogada? Você vai descobrir isso no seu histórico de mãos, diante da frequência que você está tomando shove nos seus raises. Então o grande segredo é balancear isso para não ser explorado.
Qual a importância de ter o 888poker como parceiro nesta Copa?
Foi fundamental. A gente é muito grato ao 888poker pelo fato que eles abriram a porta totalmente para a gente. A nossa parte é o conteúdo, conseguir fazer a estrutura para todo mundo ficar sabendo, ter acesso fácil à Copa e ter uma experiência top, essa é a nossa função. A parte do 888poker é gerar tudo isso, dar o máximo possível para a galera e proporcionar o lugar para toda essa festa acontecer. Importante falar que tudo que o 888poker liberou, que a gente é muito grato, não só eu, como todos que estão jogando a Copa, foi 100% direcionado para a premiação. Um parceiro desse é fundamental para acontecer essa experiência, para todo mundo chegar no final da Copa feliz, realizado, o pacote completo mesmo. Um negócio justo, com ranking, para a galera se divertir para caramba e é isso, só alegria a Copa Pessagno.
Como tem sido a reação à Copa nas suas redes sociais?
A galera está ensandecida (risos). Muito legal mesmo, é um prazer, uma honra gigantesca poder estar nessa posição que estou, receber tanta mensagem. É engraçado porque eu recebo os louros, os méritos, mas estou aqui com uma equipe gigante trabalhando, suando todo dia. É maravilhoso esse retorno, poder estar contribuindo, fazendo o mínimo de diferença na vida de alguém de forma positiva. Eu acho mais divertido até jogar alguns torneios baratos, porque você acaba jogando solto, não tem o peso do buy-in, então pode se arriscar mais, testar coisas novas. E o freeroll você pode fazer isso, porque se perder você ganha experiência e não pagou nada por aquilo, então é uma conta maravilhosa. Se você perder, você ganha experiência, se ganhar, leva experiência junto com o prêmio ainda, então é fundamental, todos que estão começando têm que ter essa oportunidade.
Após anos de sucesso, você ficou sumido por um tempo. O que aconteceu?
Esse é um assunto que a gente já falou bastante, a maioria das pessoas acho que já sabem, mas basicamente eu tive alguns problemas familiares. Perdi as duas pessoas mais importantes da minha vida na época, em um espaço de tempo muito pequeno, o tipo de coisa que pega a gente de surpresa. Isso desencadeou uma série de problemas familiares e se alongou por um tempo, até uns dois, três anos ali, e nesse meio tempo o poker ficou totalmente secundário para mim. Não estou dando desculpa, quero deixar claro, só estou contando a situação que eu estava, jogando há muito tempo, bitolado, estava com muito dinheiro na conta, então você para e pensa “não quero fazer mais nada”. O principal, que eu descobri depois, foi que minha chama em relação ao poker apagou porque eu não tinha mais porque jogar, pois a minha grande razão de jogar era mostrar pro meu pai que isso dava dinheiro e para minha vó, que me apoiou desde o começo. Eles sempre foram as duas pessoas chave, então essa chama ficou fraca e eu estava no ápice da minha carreira, estava com um contrato muito bom. Eu me sentia obrigado a jogar e era a última coisa que eu queria estar fazendo. Então passei por um período muito difícil, mas hoje eu falo que foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida, porque esse momento me deu a oportunidade de enxergar o que eu precisava fazer para estar no caminho certo.
Como se sentiu no retorno ao poker?
Depois que eu voltei a jogar, acho que foi em 2016, eu estava dando coach no segundo semestre e foi uma turma maravilhosa, muita gente, um apoio maciço da galera, resultados super positivos. Logo após esse coach, eu decidi voltar com tudo, a chama parece que voltou, consegui entender tudo que aconteceu na minha vida e eu comecei a grindar pesado, do jeito que eu fazia antes. Já fui muito bem logo de cara, a partir de outubro, nos primeiros três meses, mas chegou em janeiro e eu não estava feliz de novo. Aí eu vi que eu precisava de desafios maiores, no caso voltar a jogar high stakes, que é um jogo onde eu ganhei muito, mas depois tomei um ‘couro’ e ficou por isso mesmo. No medium e low estou tranquilo, mas no high ficou esse gostinho de derrota, então parei tudo, comecei a usar todas as ferramentas que todo mundo usa, parei três meses para jogar só cash game e melhorar meu jogo deepstack e contratei vários coaches, não só de poker. Enfim, isso mudou minha vida em relação ao jogo, que hoje sou um cara muito mais teórico do que era antes. “Caio Pessagno teórico” é até engraçado de falar (risos), tive muita dificuldade para associar tudo ali, mas faz parte do processo. Tive muito sucesso nesse primeiro semestre, mesmo sem jogar três meses, e me planejei para o WCOOP para jogar caro e me desafiar mesmo. Infelizmente, não foi como eu esperava, joguei bem, mas não tive os resultados que queria, o que faz parte, high stakes é isso. Agora, começa todo o processo de novo, até o SCOOP de 2018 fazer o arroz com feijão, ficar up, retomar o caminho das vitórias, a confiança e entrar com tudo de novo lá. O que tiver que ser, vai ser, eu só sei que acredito muito em mim, sempre acreditei, e não vou parar de trabalhar duro até atingir minhas metas e objetivos, como sempre fiz e vou fazer enquanto eu tiver respirando.
Fique à vontade para acrescentar comentários e agradecimentos
Queria deixar claro para as pessoas que, se eu estivesse sozinho nessa vida, não estivesse cercado por pessoas que eu amo, pessoas positivas, que só querem meu bem, eu nunca teria dado a volta por cima, nem chegado onde eu cheguei. Nos momentos bons elas estavam lá e nos difíceis também. Sozinho você não chega a lugar nenhum, então só tenho a agradecer, do fundo do coração, minha esposa e minha filha, que foram duas pessoas que entraram na minha vida e preencheram um vazio que eu achei que nunca seria preenchido. E é claro, minha família aqui, Léozinho, Tibera, Betão, Guga, meus irmãos, Aldo, Gabriel, Felipe Fera, Vivi, todas minhas mães, a vó da Sofia, minha família é muito grande, cheia de amor. Sou muito abençoado e é por isso que sempre vou conseguir o que quero na minha vida, não é por causa de mim, mas porque tenho eles.