Os portugueses foram um dos principais destaques desta edição do WCOOP (World Championship Of Online Poker). Com apenas três jogadores, Filipe Oliveira, João Vieira e Rui Ferreira, o país alcançou sete conquistas na série.
Pilotando a conta “Zagazaur”, Filipe disputou até o último torneio a liderança do ranking geral da série, mas acabou ficando na segunda colocação, somando impressionantes 1.345 pontos. O título ficou com o finlandês Jussi “calvin7v” Nevanlinna, que encerrou a série com 1.400 tentos.
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Além da bela performance no ranking geral, o português também fez bonito na classificação High e Medium. Na versão mais cara, o profissional ficou na segunda colocação com 700 pontos e na média acabou em quarto, tendo 375 tentos.
Filipe não soma apenas grandes resultados nos feltros online. No final do ano passado, o jogador foi o primeiro português a conquistar uma premiação milionária. O feito veio ao vencer o Main Event do Caribben Poker Party, após ter ficado com apenas três big blinds na mesa final. Com a vitória, o jogador recebeu US$ 1.500.000.
Em entrevista ao SuperPoker, o jogador esbanjou sinceridade. Falou sobre o início da carreira, seu pensamento sobre rankings, o poker português e os craques brasileiros. Ainda revelou que disputou a série aqui no Brasil. Confira:
Como iniciou a jornada no poker?
Conheci o jogo por meio de amigos, comecei a brincar em cafés e também a jogar online. Depois, percebi que dava para ganhar dinheiro, mesmo perdendo sempre no começo, mas vi que eram as mesmas pessoas que ganhavam.
Comecei pelos Sit & Go, mas acabei entrando na universidade. Quase não ia às aulas e ficava sempre em casa jogando. Vendo essa rotina, desisti da faculdade e comecei a levar ainda mais a sério o jogo. Pouco depois, conheci o Rui [Ferreira], desde então temos estudado sempre juntos e ficamos muito amigos.
Como foi a reação dos familiares quando você decidiu abrir mão da faculdade para jogar poker?
Eles sempre confiaram muito em mim e nas decisões que eu ia tomando. Claro que eles iam ficar mais contentes se eu tivesse terminado a faculdade, mas não houve grande problema.
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Eventualmente com o sucesso, eles foram ficando cada vez mais contentes e, agora, meu irmão também é um jogador profissional de poker. Hoje, nossos pais são nossos maiores fãs.
Você mencionou que desde o início da carreira conheceu o Rui Ferreira. Como foi o desenvolvimento da tregetória de vocês?
Foi há seis anos que nos conhecemos. Ele já era jogador high stakes e eu disputa Low e Micro. Sempre fui muito trabalhador e estudioso. Quando começamos a conversar, vinha algumas coisas que eu já tinha estudado, mas que não tinha me aprofundado por causa do Sit & Go.
Era um apoio mútuo. Como pessoas, também nos demos muito bem e foi fácil trabalhar e estudar em conjunto.
Quando houve o fechamento do mercado português, como você reagiu e as primeiras decisões que tomou?
Foi uma coisa muito difícil, pois tive que sair de Portugal para continuar a jogar poker, mas foi a melhor coisa que me aconteceu, pois quando fui pra fora não tinha distrações, passava os dias praticamente jogando ou estudando, além de estar rodeado de jogadores muito bons. Em Praga estava o Rui Sousa “sousinha”, Pedro Marques, João Vieira “Naza114”, todos muito bons que jogavam high stakes. Nesse período, sempre discutíamos muitas coisas juntos.
Nesse WCOOP, o poker português deu show. Como você vê o desenvolvimento do poker em Portugal e como é a relação de vocês, que são os principais nomes do esporte no país?
Nós não somos os melhores amigos e nem discutimos estratégias juntos, para ser honesto. Digo que a minha relação com os demais jogadores portugueses não é má, sempre os cumprimento quando nos encontramos e fico contente quando alcançam resultados, mas em termos de relação, apenas com o Rui que sou muito próximo.
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O poker em Portugal está muito bem representado, estamos crescendo e somos muito competitivos, os sucessos recentes tendem a melhorar isso. No começo tivemos muito azar, na minha opinião, mas agora com a sorte do nosso lado, a tendência é sempre melhorarmos.
Quando você fala que tivemos azar no início, você se refere a que?
Digo que não tivemos nenhum prêmio grande no início e tínhamos jogadores com qualidade para estar lá em cima, mas os resultados não estavam vindo. Não desistimos por causa disso e continuamos trabalhando. Hoje, temos alguns jogadores disputando os torneios mais caros do mundo.
Aqui no Brasil o poker segue crescendo, assim como em algumas partes do mundo. Pra você, o quanto dificulta a popularização do esporte em Portugal com o mercado fechado?
Hoje é muito mais difícil um jogador se tornar profissional lá, comparado com quando eu comecei. Os limites mais baratos eram mais fáceis e ficava com todo o dinheiro pra si. Hoje é muito mais difícil ganhar sem fazer parte de um time de poker e quando se joga por uma equipe, ele não fica com 100% do lucro.
O mercado estar fechado acaba dando menos escolha para os jogadores e o jogo é muito mais difícil. Hoje, o PokerStars.Es tem um field bem mais complicado que a versão .com, pois os jogadores profissionais de outros países também jogam lá.
No início da carreira quem eram suas referências no poker? Hoje você ainda tem algum ídolo no esporte?
Não lembro muito bem quem eram as minhas referências, muito provavelmente eram os jogadores como Phil Ivey e Patrik Antonius, que via na televisão e gostava muito. Em Portugal eu não tinha nenhum, honestamente.
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É muito difícil hoje chamar alguém de ídolo, quando trabalhamos com competição e são nossos adversários. Claro que não jogo torneios de US$ 1 milhão como eles, mas já joguei os torneios de € 100.000 e sempre estamos nos torneios mais caros. Então, não os olho como algo inatingível, acho que a figura do ídolo acontece mais quando é alguma coisa impossível de atingir. Agora, é tudo muito real e por isso não tenho ídolos.
No início de toda série, os jogadores criam grandes expectativas em relação aos resultados, mas você imaginava um desempenho tão positivo quanto esse WCOOP?
Não. Eu apenas me apaguei aquilo que eu podia controlar. Tentei fazer uma alimentação saudável e que eu conseguisse estar bem focado durante as decisões. Me preocupei também em não beber álcool em nenhum momento nesta série e em fazer exercícios físicos todos os dias. Antes das sessões, eu resolvia algumas mãos e aqueci jogando poker.
Ao fazer isso, vi que a minha performance foi a melhor possível. Com um pouco de sorte e jogando o melhor que eu podia, os resultados apareceram.
De onde surgiu a ideia de vir para o Brasil disputar a série e como está sendo a estadia aqui no país?
O convite partiu do Fabiano Kovalski, nos disse que arrumava um apartamento no condomínio onde mora e nós sempre quisemos vir jogar as séries em um país em que o fuso horário para jogar os torneios fosse melhor. Jogando na Europa os torneios sempre acabam depois das 3h da manhã, isso é muito cansativo. Acordamos todos os dias muito tarde, algumas vezes praticamente nem víamos o Sol e vir pra cá nos dá uma qualidade bem melhor do que lá. As pessoas foram muito simpáticas, adorei estar aqui e voltarei em maio, com certeza.
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Você joga sempre os torneios mais caros. Quando viu que estava entre os líderes do ranking, jogou os torneios Low para buscar o título do WCOOP?
Um dos meus objetivos nesse WCOOP era ganhar o Leader Board. Joguei todos os torneios da série desde o início. Não acho que seja um título muito importante, mas era algo que eu queria ganhar. Por isso, desde o início joguei tudo.
Vi que suas informações no principal ranking do poker online são bloqueadas. Este tipo de classificação não é uma meta na carreira?
Eu acho que ele é enganador. Muitos jogadores possuem boa classificação no ranking e seus resultados em torneios são negativos. Então, eu não gosto desse tipo de classificação, mesmo o WCOOP, o jogador que ganhou, não teve muitas conquistas. O vencedor deste ano do SCOOP também é um perdedor em torneios, por isso acho que eles não significam nada e não deve dar muito valor.
Olhei para esse Leader Board como um jogo e que queria vence-lo, apenas isso. O pensamento sobre o PocketFives é parecido, não gosto disso, pois não está diretamente relacionado com resultados, o jogador que está em primeiro não é o que vence mais, por isso não dou valor nenhum.
Sendo um jogador high stakes, como você analisa o crescimento do field e a qualidade técnica?
O poker online está muito difícil. Os torneios high stakes não possuem jogadores médios e fracos, como havia antigamente. Agora, até mesmo os recreativos são bons adversários e a maioria dos competidores são muito bons.
Acho que a tendência é ficar cada vez mais difícil, mas é algo que gostamos: a competitividade e sempre estar nos desafiando.
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Quando está em Portugal você joga a versão disponível ou fica apenas descansando?
Muito pouco. Os valores não são tão interessantes e eu prefiro estudar para ensinar meu time ou algum outro trabalho relacionado à equipe. Também me ocupo com outros investimentos que tenho, mas sempre tento me manter ativo e estudar bastante para não perder o ritmo.
Como foi a disputa do Main Event do Caribbean Poker Party?
O torneio correu tranquilo. Não teve momentos em que eu não sabia o que fazer, estava muito confiante e nunca senti nervosismo, sempre estava muito confiante, até quando restaram 40 jogadores. Pois a partir daí, vi que estava bem próximo de ser o primeiro jogador a conquistar um prêmio de US$ 1 milhão. No 3-handed, consegui recuperar toda a concentração e o foco para buscar o título.
Como surgiu a ideia de criar um time e como está sendo o intercambio em ter jogadores brasileiros na equipe?
Nós sempre bancamos jogadores. É muito difícil você bancar poucos jogadores e eles jogarem caro, pois a variância é um fator no poker. O que queríamos era bancar muitos competidores para eles disputarem torneios mais acessíveis, pois com isso o retorno é maior, tanto para eles quanto para nós.
Quando isso teve a oportunidade de acontecer, começamos a investir em vários jogadores e deu certo. Estou adorando isso. Nós temos muitos jogadores brasileiros e as portas estão abertas.
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Como você analisa os jogadores brasileiros? Quais jogadores você admira e respeita o estilo de jogo?
Os jogadores brasileiros realmente estão muito bons. Comparado ao que era há quatro anos atrás, a tendência sempre era dez muito bons e os demais muito fracos. Agora, isso mudou muito, são diversos competidores muito competentes, que jogam limites médios. Isso se deve bastante as equipes brasileiras que estão fazendo um excelente trabalho.
O Fabiano Kovalski é um dos melhores brasileiros, o respeito bastante, tanto o jogo como a opinião dele. Durante o WCOOP, ele esteve na casa, discutimos bastante e o ouvia bastante. Os demais eu não conheço muito bem, mas o “theNERDguy”, Yuri Martins, também é outro nome. Ele pode não ser o número um em uma modalidade, mas joga todos os jogos muito bem.
Nesse WCOOP também deu para perceber o crescimento dos Mixed Games. Você acha que isso se deve a que? Qual a periodicidade de estudos nas modalidades menos populares?
Eu vejo que o poker está crescendo de forma geral. Quando cresce, é em todos os pontos, acredito eu. Durante o WCOOP todos querem ganhar um torneio, serem campeões do mundo e vão tentar em todos os tipos de jogos.
Não sei se está crescendo, mas jogo bastante cash game, algo que eu gosto por me desafiar muito, pois enfrento os melhores do mundo e essa é a maneira principal que uso para aprender. Desde que comecei a estudar os demais jogos, sempre quis enfrentar os melhores nessas mesas, mas nos limites mais baratos que eles estavam dispostos a jogar. Ou seja, eles jogavam limites entre US$ 40/ US$ 80 e eu entrava para perceber o que eles faziam e suas tendências. Também assistia vídeos e calculava algumas mãos que jogava.
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O que te motiva a continuar jogando poker? Quais são os objetivos que você colocou?
Eu não tenho grandes objetivos. Uma coisa que eu queria fazer era jogar a WSOP e disputar Poker Players Championship, torneio de US$ 50 mil. Enfrentar os melhores do mundo em um torneio de Mixed Games, é algo que eu quero experimentar.
O que motiva a continuar no jogo é ganhar dinheiro. Tirando isso, o outro é que a Polarize Poker Team seja a melhor equipe do mundo.
Bracelete da WSOP é um objetivo?
Não. Era algo que eu almejava, mas não vou tentar fazer tudo para ganhá-lo. Eu nunca fui, então preciso ir uma vez para ver se quero seguir indo.
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