A coluna TBT de hoje volta quatro anos no tempo e relembra o BSOP Balneário Camboriú.

Era final de março, mais uma viagem programada, mais uma grande transmissão se aproximava. Junto com a minha equipe, naquela época composta por Felipe Moraes, Fábio Deu Zebra e Caio Machado, estava escalado para o BSOP Balneário Camboriú.

Naquela época as coisas eram um pouco diferentes. Eu não era o editor, nem responsável pela parte “artística” das transmissões, a gente ainda não usava a tecnologia das cartas reveladas, mas contávamos com a ajuda do Patrick, Adriano, Vini e Fábio, da empresa especializada em gerar caracteres e gráficos informativos durante o streaming.

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A sala de transmissão era realmente grande, cabia bastante gente e mesmo quem não estava escalado para o turno, ficava por lá. O clima era bom, bastante descontraído, e naquela época lançamos mão de uma novidade no produto: na madrugada, priorizávamos o humor na narração. Era o chamado Poker Sem Censura. Acabou não dando certo. O público, sempre exigente, protestou, com razão.

No fim do primeiro dia de trabalho, depois de gravar algumas inserções de matérias e narrar, reuni a turma para a tradicional resenha no meu quarto. Em qualquer viagem de poker, os meus aposentos acabavam sendo a embaixada. Meu companheiro de dormitório era Felipe Moraes, um grande apreciador desse tipo de encontro.

Tinha muita gente por lá. Conversa boa, animada, descontração. Quando a última pessoa deixou o quarto, já era manhã em Balneário Camboriú. Era hora de dormir e se preparar para o dia de trabalho vindouro.

Antes de me refestelar na cama, fui dar aquela clássica conferida no celular. Me deparei com muitas mensagens e ligações do meu irmão Vini Marques, que era parte da equipe, mas não havia sido escalado por motivos de saúde.

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Vini tinha dengue. Meu pai também fora acometido pela doença. Ao ver o telefone imaginei o pior, mas já em 2015 todo mundo tinha o WhatsApp e foi lá que vi que com eles estava tudo bem, mas, meu avô materno, Octavio, havia falecido durante a noite.

Vovô foi o maior incentivador dos jogos de baralho na família. Aos 89 anos, estava bem, apesar de ter tido uma fratura no fêmur, que reduziu bem a sua mobilidade. Permanecia lúcido e falecera dormindo.

Era hora de ir para São Paulo e ajudar minha mãe, que sem poder contar com Vini e meu pai, teria de enfrentar uma barra muito pesada. Fui liberado prontamente por Josiane Zani, a nossa chefe. Ela ainda disse para que eu ficasse na capital paulista, que não precisaria voltar.

Depois de enterrar o velho Octavio, de ajudar Mamu com os procedimentos, de estar ao lado dela, e também de dar uma força aos enfermos, resolvi, me sentindo um super-herói, que eu deveria voltar ao BSOP.

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Esse foi um dos grandes erros que cometi na caminhada. Apesar de não deixar a equipe na mão, acabei me desentendendo com alguns membros do time e o clima não ficou legal. Mea culpa, mea máxima culpa.

Aos trancos e barrancos, com um cansaço grande, narrei a mão final da vitória de Rafael Lirola sobre o mineiro Christiano Franco, em um Heads-Up longo e bastante técnico. Salvo engano, a partir desse BSOP se iniciou a discussão para termos mais um dia de evento, o que acabou acontecendo.

De volta a São Paulo, acabei fazendo apenas essa autocrítica a Felipe Moraes. Não mais toquei no assunto e segui adiante. Me senti ao mesmo tempo muito forte e profissional por ter voltado e mal por ter tido discussões e brigas.

Tudo seria superado sem grandes consequências, todos permaneceram amigos. Muitos BSOPs passaram depois, alguns deles com transmissões memoráveis, grandes audiências, mas esse eu nunca esquecerei.