Nas primeiras horas desta segunda-feira (20), Pedro Bromfman colocou seu nome na história do poker brasileiro ao vencer o Evento #38 da WSOP e garantir seu primeiro bracelete da série. Nascido no Rio de Janeiro, mas morando em Los Angeles há 22 anos, o recreativo possui um currículo recheado como produtor musical. O título veio apenas dois anos após Pedro ficar em sexto lugar nesse mesmo evento, mas o brasileiro quase não disputou o torneio pensando em suas filhas, de 4 e 7 anos.

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“É inacreditável”, disse em entrevista ao SuperPoker. “Eu quase não joguei esse torneio por causa do Dia dos Pais, minha filha tinha uma peça de teatro neste fim de semana e hoje era dia dos pais aqui nos Estados Unidos. A gente mora na Califórnia, e eu estava me sentindo mal de perder isso com a família para jogar poker. Pensei se voltava ou não, decidi jogar, falei ‘vou perder rápido e vou pra casa’ (risos). Não foi assim, agora tá todo mundo feliz lá.”

Para quem não conhece o trabalho extenso de Pedro na indústria musical, o carioca se apresentou. “Eu trabalho com composição e produção musical para cinema, televisão, videogames, comerciais”, resumiu. “Já estou há 22 anos aqui em Los Angeles, fiz os ‘Tropa de Elite’, praticamente todos os projetos do Zé Padilha, fiz trilha sonora do Narcos, ‘The Story of Us’ com o Morgan Freeman, um monte de séries. Filmes fiz o ‘RoboCop’ com o Padilha, vários filmes conhecidos aqui, e nos últimos anos entrei em videogame também, fiz a trilha do ‘Need for Speed’ com a Electronic Arts, do ‘Far Cry 6’ para a Ubisoft, então é surreal. É o que minha mulher fala, quase uma segunda carreira (risos).”

Pedro Bromfman soube usar o grande stack para pressionar os oponentes (foto: Diego Ribas/PxImages)

Pedro Bromfman soube usar o grande stack para pressionar os oponentes (foto: Diego Ribas/PxImages)

Experiência na modalidade

O fato de não ser tão conhecido no circuito de torneios ao vivo não significa falta de experiência para o brasileiro. “Eu sou jogador de cash game”, explicou o campeão. “Poker não é minha profissão, eu moro na Califórnia, tenho filho pequeno, então é muito difícil eu vir para Vegas e ficar quatro ou cinco dias, nem imagino ficar semanas como as pessoas ficam aqui. A minha vida é outra, mas eu sempre joguei cash game, então na Califórnia a gente joga Mixed Games, tem um grupo nosso que joga esse Lowball, que são Daniel Alaei, Billy Baxter, jogo com os caras que já têm muitos braceletes neste estilo em particular.”

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A paixão pela modalidade, considerada por muitos uma das “formas mais puras de poker”, vem também do maior uso da experiência no lugar de softwares de estudo. “Tenho muita experiência neste jogo e é o meu preferido”, explicou. “Não tem solver, estudo, você joga baseado na experiência que você tem, nas cartas que descartou, no range que o outro pode ter. Você não tem alguém estudando 12 horas por dia no solver para saber quanto aposta. Isso não me interessa, não tenho tempo e nem é a minha paixão, eu gosto desses jogos que não estão ‘solved’, que as pessoas não sabem o que fazer.”

Yuri Martins

Outro assunto da conversa com o SuperPoker foi a companhia de Yuri Martins na mesa final. Pedro foi só elogios ao compatriota, que sofreu nas mãos do recreativo. “Deu muita pena uma mão com o Yuri que ele aumentou, eu paguei, não lembro se ele tava pat ou trocou uma”, contou Pedro. “Eu tinha J8 e quebrei a mão, fiz 86432, uma mão excelente. Ele apostou pequeno, eu fiz acho que seis vezes o pote e ele pagou. Partiu o coração um pouco, eu gosto muito do Yuri, me deu pena, mas o poker é isso, é matar ou morrer, você tem que acumular fichas onde pode. Mas me deu pena, podíamos ter ido os dois para o heads-up, mas deixei ele com muito pouca ficha naquele momento.”

Yuri Martins e Pedro Bromfman durante a mesa final na WSOP (foto: Diego Ribas/PxImages)

Yuri Martins e Pedro Bromfman durante a mesa final na WSOP (foto: Diego Ribas/PxImages)

A amizade entre os dois não é de hoje, com a primeira FT com ambos tendo acontecido na PokerGO Cup. Pedro destacou a grande habilidade de Yuri, mas também afirmou que se garante em sua modalidade favorita. “Ele [Yuri] também é músico, temos um background parecido”, explicou. “Não o conheço tanto pessoalmente, mas já nos vimos várias vezes, trocamos recado, ele é um cara muito especial. Obviamente, em outras modalidades de poker, ele sabe muito mais do que eu, mas no No Limit 2-7, eu acho que já joguei muito mais do que ele. Eu apostaria bastante dinheiro de que tenho muito mais experiência no jogo do que ele, e eu tinha muita ficha, botava pressão, não era uma posição fácil para ele.”

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Phil Hellmuth

Outro que sofreu na mão do campeão, mas contra quem Pedro não teve pena, foi Phil Hellmuth. O “Poker Brat” chegou até a dar um de seus famosos chiliques contra o brasileiro. “Teve uma mão que ele enlouqueceu, ele estava “pat”, eu troquei duas cartas e fiz uma wheel, ou seja, a número 1 (melhor jogo possível)”, relembrou. “Eu dei check, ele apostou e eu coloquei ele praticamente em all in. Ele levantou, começou a reclamar e eu morrendo de rir. Ele é muito figura na mesa do poker, tem 16 braceletes e acha que merece todos, que tudo deveria ir do jeito dele. Mas depois ele veio falar comigo, disse que eu joguei bem e deveria jogar mais torneios, porque falei pra ele que jogo no máximo dois ou três torneios por ano.”

Heads-up relâmpago

Após a queda de Cary Katz em terceiro, Pedro começou o heads-up com stack equilibrado contra Scott Seiver, mas não demorou para superar o norte-americano, contando também com um empurrão do baralho. “O heads-up foi tão rápido que eu nem tenho o que falar, só pena do Scott”, contou. “Acho que em 6 ou 7 mãos que jogamos eu tive 3 “pat hands”, as “mãos feitas”, em heads-up qual a probabilidade disso acontecer?

Scott Seiver não teve chances no heads-up contra o brasileiro(foto: Diego Ribas/PxImages)

Scott Seiver não teve chances no heads-up contra o brasileiro(foto: Diego Ribas/PxImages)

Então realmente foi muita sorte heads-up, mas isso não diminui o que joguei o torneio inteiro. Eu fiz a final table em 2019, mas olho para o meu jogo naquela época e vejo que não sabia nada, sou infinitamente melhor jogador hoje, não só de 2-7, mas de entender como funciona torneio, colocar pressão no short stack quando tem bastante ficha. O Cary Katz me chamou de ‘Michael Addamo do 2-7″, falando que eu estava jogando como um lunático assim, mas eu botava muita pressão porque tinha ficha, mas em muitas mãos eu tinha cartas boas também.”

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