Começou hoje no BSOP Millions o Seniors Event, com participação exclusiva para jogadores de 50 anos ou mais. No entanto, o jogador mais velho de todo o salão não estava nas mesas.
Isso porque Antônio Zanin, de 95 anos, estava engatado no Dia 2 do Main Event. Natural de Jaú-SP e atualmente morador de Cuiabá-MT, ele rapidamente se tornou uma verdadeira celebridade na mesa, ganhando a admiração dos outros jogadores.
São 3 filhos e um número de netos, bisnetos e tataranetos que ele já perdeu a conta. "Eu tenho tataraneto casado há 10 anos, mas não tem filho. Se ele tiver um filho, o que o filho vai ser meu? Já perguntei para uma dúzia de pessoas e ninguém soube responder."
As mãos tremem um pouco e as pernas "ardem depois de meia hora sentado", mas a cabeça totalmente lúcida revela um amante do poker, que viu o crescimento do esporte como poucos.
Antônio começou a jogar há cerca de 32 anos, mas diz que na época o jogo era outro, predominando o 5-card draw. "Não era desse, era com cinco cartas e cinco pessoas na mesa e a gente só jogava com o sete, oito, nove, dez, valete, dama, rei e às. A gente capava o baralho porque ninguém sabia jogar".
O sorriso sempre estampado no rosto e a disposição do senhor quase centenário impressionam. "Eu jogo no clube lá em Cuiabá há uns 20 anos, e jogo até amanhecer o dia, saio de lá 7:30 da manhã quando o sol já tá saindo, não tenho serviço mesmo".
Regular do cash game, ele diz ter virado fã do… "como é que chama mesmo o que a gente joga lá?", perguntou ao amigo, que respondeu "É Omaha, seu Antônio". "Então, aquele lá é fácil, se ganhar ganhou, se perder perdeu e vai dormir né", brincou Zanin.
Testemunha de uma época onde o poker era discriminado e agora participante de um dos maiores torneios de poker do mundo, ele se diz contente com o crescimento do esporte, mas afirma que o grande número de jogadores torna o jogo muito mais difícil.
Apesar disso, ele conseguiu se recuperar no Dia 1."Tomei um apuro desgraçado, não saia carta, teve uma hora que cheguei a ficar com 7 mil fichas. Acabei o dia com 15 mil e agora tenho 30 mil e poucos já, mas não é fácil não, aguentei até as 2:30 da manhã."
Perguntado sobre como os outros jogadores o veem na mesa, Antônio explicou que sempre é bem recebido. "Eu chego e todo mundo vem ajudar, me trazer as coisas, comida ás vezes eu nem pago, é uma maravilha. Eu não largo esse jogo, só quando morrer".
Esse foi seu primeiro BSOP, mas segundo ele não será o último. "Eu não sabia que existia, nunca ninguém me avisou. Mas já me falaram que em janeiro tem de novo né, dai a gente vai voltar aqui, se eu tiver vivo, se Deus quiser", afirmou, sempre mantendo o bom humor.
Um dos responsáveis por apresentar o BSOP para ele foi o embaixador do 888poker Bruno Foster, que Antônio pediu para cumprimentar quando ficou sabendo que o profissional também estava jogando o evento. "Chegou um rapaz lá e disse que tinha ganhado em Las Vegas um prêmio muito grande, é um jogador profissional, daí ele me convidou. Ainda me deram esse boné que é lá de Vegas."
Sobre o que faria se ganhasse o prêmio principal, o aposentado deu risada. "Iria distribuir entre os filhos, família e amigos, mas não dá pra ganhar um torneio grande assim".
O vôo já marcado para amanhã não seria um problema para a permanência dele no torneio. "Se eu passar hoje, eu seguro o avião e volto outro dia. A minha filha, o genro e mulher que vão, eu vou ficar".
Isso, no entanto, foi dito antes de Antônio ser eliminado. Com um estilo bem tight, ele acabou se despedindo do torneio em um cooler. Segurando KQ No flop KQT, ele foi all in contra Fernando Luiz, confiante em seus dois pares, mas Fernando apresentou AJ para um straight e sem a dobra de cartas no board essa foi sua última mão no torneio.
A eliminação entristeceu até mesmo o responsável por tirar as últimas fichas de Antônio. O que se seguiu foi praticamente uma homenagem a ele, com todos da mesa levantando para cumprimentá-lo.
Em seguida, uma fila de interessados em entrevistar aquele que provou mais uma vez que não existe jogo mais democrático do que o poker. Com a voz serena e a alegria explícita de ter tantas pessoas querendo conhecer sua história, ele apenas respondeu "falo com todos, não tenho pressa nenuma".