O americano Gordon Vayo apareceu com destaque no mundo do poker em 2016, quando foi o segundo colocado no Main Event da WSOP, perdendo o heads-up para Qui Nguyen. O resultado trouxe o prêmio de mais de US$ 4,6 milhões e a fama, mas o jogador não parou por aí.
Em 2017, ele voltou a conquistar um grande resultado, dessa vez nos feltros virtuais. Gordon foi o campeão de um dos eventos do SCOOP 2017, levando o prêmio de quase US$ 700 mil. Na hora de sacar, o jogador foi colocado sob uma investigação de rotina no PokerStars, e o fim acabou gerando uma grande polêmica.
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O site alega que Gordon jogou o torneio dentro do território americano, o que é proibido pelos termos do site. O profissional, por outro lado, diz que estava no Canadá. Após diversas trocas de emails, o americano decidiu contratar um advogado e processar o site, fato que virou público há cerca de um mês.
Presente na WSOP 2018, Gordon deu uma entrevista exclusiva ao SuperPoker, falando sobre o processo e também sobre o vice-campeonato de 2016. Confira.
O que mudou na sua vida desde o resultado no Main Event?
Acho que foi a habilidade de “respirar”. Como um jogador de poker, venho grindando há 12 anos e nunca senti que pudesse tirar mais do que algumas semanas de folga. Depois da WSOP, eu costumava tirar uma folga, mas logo tinha que estar de volta ao jogo, nem considerava outra opção.
Quando eu ganhei o prêmio, foi o momento em que consegui me afastar um pouco e pensar sobre a minha vida até agora, pela primeira vez eu tinha dinheiro para investir, então não joguei muito poker por cerca de um ano, focando mais em não desperdiçar o dinheiro (risos). Eu nunca havia tido uma oportunidade para criar uma renda passiva, então eu tentei acertar isso, para que minha renda não viesse toda do jogo e da variância que existe nele, esse foi meu foco.
Mesmo com o grande prêmio, foi decepcionante ficar em segundo?
Claro (risos), eu fiquei devastado por um longo tempo, mas logo depois que aconteceu o torneio foi o pior, eu fiquei sentado em um quarto escuro, sozinho. Fiz um post longo no Facebook agradecendo todo mundo, tentando descrever quão feliz eu estava, ao mesmo tempo que estava depecionado. Lembro que Jesse Sylvia [vice-campeão do Main Event em 2012] respondeu “bem vindo ao clube” (risos).
Não teve um dia que passou, pelos seis meses seguintes, em que eu não pensasse sobre o torneio, repassando tudo que aconteceu, ficando bravo comigo mesmo em alguns spots. É impossível não pensar nisso, mas o problema é que não traz benefício nenhum e acabou me distraindo de quão sortudo eu era por estar lá. É uma loucura como suas expectativas mudam, quando eu entrei no torneio nem pensava em chegar na mesa final, quando eu cheguei na mesa final estudei bastante, fiz simulações no computador e tudo mais, e lembro que, naquele momento, a ideia de chegar em segundo já me deixava em êxtase. Isso mostra o quão difícil é estar satisfeito, aparentemente você tem que ganhar o Main Event (risos), mas esse não é um parâmetro saudável.
O seu ano foi o último com o formato do November Nine. Você acha que teria sido melhor jogar direto?
Eu acho que todo mundo aproveitou esse período para melhorar, então jogar direto teria favorecido quem investiu muitas horas de trabalho no poker, porque seu cérebro não está mais funcionando no mesmo nível depois de jogar por tanto dias seguidos. No sétimo dia você é apenas um fantasma de si mesmo, apenas tentando sobreviver, acho que seria muito difícil jogar naquele momento. Quando você chega tão longe, com ICM e tudo que envolve a mesa final, é difícil apertar o jogo se você não é o chip leader. Eu percebi isso não apenas no meu ano, mas em outros anos também, aquele momento é diferente de tudo. Eu joguei milhões de mãos de poker na minha vida, mas a magnitude daquela situação é absurda.
Sobre o processo do PokerStars, o que você pode comentar?
Basicamente, eu ganhei o US$ 1.000 com reentradas para cerca de US$ 700 mil em maio de 2017. Depois disso, fui para Las Vegas, joguei a World Series, voei de volta para o Canadá e tentei sacar o resto. Eu já tinha mandado de US$ 85 mil a US$ 100 mil pelo site, logo após o torneio, para pessoas que tinham comprado ação, e não tive nenhum problema. Quando tentei sacar os US$ 600 mil e pouco que restavam, de repente eles me disseram que eu estava sob uma investigação de rotina e então colocaram em mim o ônus de provar, “além de qualquer dúvida”, que eu estava onde disse que estava. Isso aconteceu dois meses após o torneio, nunca tinha ouvido nada disso antes, e de repente eu tinha que provar algo sem deixar dúvidas. Foi nesse momento que eu decidi contratar um advogado, porque eu não queria fazer nada errado, e me pareceu que eles estavam agindo de má fé.
Eles tentaram me fazer admitir algo que eu não fiz. Eu espero que, em algum momento, nós possamos discutir o conteúdo exato dos emails que trocamos, porque acho que as pessoas entenderiam porque eu fiquei preocupado com o que eles estavam tentando fazer. Eles se contradiziam, tentaram me fazer admitir algo, e disseram que meus fundos estavam presos indefinidamente. Então eu respondi de forma um pouco agressiva, escrevendo algo como “O que você quer dizer com ‘segurar meu dinheiro’? Vocês querem que eu admita algo que não fiz?”. E então eles voltaram atrás em sua posição.
Nesse momento, Gordon preferiu não se alongar no assunto do processo, com medo de falar algo a mais que pudesse prejudicar sua situação. No entanto, a questão segue na justiça. Há cerca de um mês, o PokerStars soltou uma nota oficial sobre o assunto.
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