Nesses últimos anos pesquisando e atuando com proximidade o comportamento humano associado ao esporte, constatei o crescimento e a expressão de uma emoção complexa e rotineira: “o medo do sucesso”. Na prática do poker, esse processo tem ocorrido com preocupante frequência.
Para alguns pode soar estranha a ideia de um atleta-player ter medo de vencer. Até porque, imagina-se que esse seja o alvo principal de uma ação esportiva de alto rendimento. Até então, temer a derrota parece-me mais coerente diante desse caminho cognitivo de metas esportivas.
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Como o plano emocional é cercado por nuances surpreendentes ao raciocínio humano – devo relatar que o medo do sucesso tem crescido de forma alarmante no plano das tendências competitivas – exigindo o aumento de estudos de campo dos pesquisadores do comportamento humano no esporte e fora dele.
Esse medo pode estar associado a uma perigosa forma de auto boicote que depõe contra o esforço e dedicação diária de atletas/players que fazem do esporte o ofício e objetivo de suas ações profissionais e sociais.
O sentido e significado da vitória assumiram contornos difíceis de serem internalizados – o que gera necessariamente uma reflexão mais profunda sobre os aspectos humanos no universo das emoções do ser atleta.
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Na rota das competições presenciais e/ou online, o medo do sucesso traz consigo o convite a uma viagem sobre os aspectos da identidade e da constituição do afeto social e familiar nos holofotes da vida. O trabalho psicológico com atletas necessita de maior aproximação com as vivências pessoais e construções de sentidos atribuídos a experiências competitivas nos mais variados cenários.
O quebra-cabeça do comportamento emocional é um desafio para os cientistas do esporte, que devem acompanhar a dinâmica sócio afetiva dos praticantes de esporte e atividade física no espectro do alto rendimento ou apenas na planificação de metas para o exercício físico voltado para o ganho de saúde e qualidade de vida.
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Vale dizer que nem sempre os players que evitam a derrota – perseguem a vitória. Entrar para não perder é diferente da postura mental de iniciar uma prova com o intuito de vencer. Os significados da derrota e vitória estão mudando de acordo com as relações sociais e do afeto quase sempre perdido e/ou danificado na caixa preta pessoal de cada indivíduo que – no ato esportivo, explicita suas dificuldades e conflitos diante das representações
elaboradas nas experiências passadas.
Atleta e ser humano em ação. Essa é a dica para mirarmos o olhar àquele que nos procura na clínica – quase sempre com a queixa de queda da concentração – aumento da ansiedade pré-competitiva ou simplesmente – pela perda do encanto na prática esportiva.
Os segredos, quase sempre, estão escondidos bem longe de onde, a princípio, imaginamos encontrar as diretrizes e motivações desses jovens heróis que buscam a superação e realização pessoal através do esporte – sejam elas nas mesas de poker ou da realização pessoal.
Dr. João Ricardo Cozac. Psicólogo formado pela PUC-SP. Mestre em Educação pela Universidade Mackenzie. Doutor em ciências do esporte pelo Laboratório de Psicossociologia do Esporte da USP. Pós graduado em Psicologia do Esporte pela Universidade de Córdoba (Barcelona). Pós-doutorando em Psicologia Clínica pelo Núcleo de Pós graduação em Psicologia Clínica da PUC. Presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte. Diretor clínico da empresa CEPPE (Consultoria, Estudo e Pesquisa da Psicologia do Esporte). Atua como psicólogo do esporte há 30 anos. Atualmente atende atletas de diversas modalidades e categorias em clínica particular. É psicólogo do esporte da equipe do MIBR (CS e R6). Colunista do jornal “A Gazeta Esportiva” onde assina, desde 1998, a coluna “Gol de Cabeça”. Autor dos livros “Com a cabeça na ponta da Chuteira” (ed. Annablume), “Psicologia do Esporte: atleta e ser humano em ação” (ed. Roca), “Psicologia do Esporte, clínica, alta performance e atividade física” (ed. Annablume) e “Psicologia do Esporte: fatores de ativação mental e emocional no comportamento de tenistas” (ed. Reformatório). Atuou como psicólogo esportivo das equipes de futebol profissional do Palmeiras, Goiás, Cruzeiro, Corinthians e Ituano. Integrou a comissão técnica da Seleção Brasileira de Ginástica Rítmica Desportiva. Trabalhou por dois anos na equipe da VivoKeyd onde desenvolveu trabalhos com diversas categorias do esporte eletrônico. Atende jogadores de Poker em clínica onde desenvolve atuações através de moderna tecnologia de controle mental e emocional na cidade de São Paulo.
Contato através do site do CEPPE e do email secretariapsidoesporte@uol.com.br