Quando o 3 apareceu no river na mesa do Enjoy Punta del Este e o chinês Yi Lin perdeu o resto de suas fichas, começou um dos momentos mais felizes da vida de Amauri Grutka. O jogador recreativo de Passo Fundo (RS) é presença constante nas principais séries de poker, mas nunca havia conquistado um titulo do calibre do LAPC (Latin American Poker Championship) e um prêmio tão grande.

Grutka fez história, se tornando o primeiro campeão do circuito, mas a vitória ficou muito perto de acontecer. Isso porque o gaúcho sequer planejava participar do LAPC, mas acabou cedendo após a insistência da mãe, grande apoiadora do jogador. Dias depois de viajar para o Uruguai de última hora, ele estava comemorando o prêmio de US$ 200 mil e o título.

Em entrevista ao SuperPoker, Grutka falou sobre a sensação do título, a trajetória no torneio, sua experiência no poker, os planos para o futuro e muito mais. Confira.

Amauri Grutka campeão do Main Event do LAPC Uruguai

Qual a sensação de se tornar o primeiro campeão da história do LAPC?

Para mim foi a melhor sensação do mundo. Pude dividir toda a alegria e felicidade pela grande conquista com a minha família, e com os meus amigos. São essas pessoas mais próximas de nós, as que se emocionam conosco nessas horas, que nos contagiam e fazem o momento ser marcante e inesquecível. Em especial minha mãe, que sempre me apoia e torce muito a cada evento que participo.

Inclusive foi minha mãe que insistiu para que eu fosse ao Uruguai disputar o LAPC, pois eu não havia me programado, assim decidi ir dois dias antes do evento. Liguei para o meu amigo Elson Pessette, que também havia me convidado para irmos, e assim de última hora, seguimos a Punta Del Este disputar o 1º LAPC da história! Felizmente!!!

O que esse prêmio representa para você, que é recreativo e superou centenas de profissionais?

A premiação para o jogador de poker é importante, e quanto maior melhor. Pois quem joga regularmente eventos live, como é meu caso, sabe os custos consideráveis que temos que suportar, que vão bem além dos buy-ins, são viagens, hotéis, alimentação e isso pesa. Neste evento fiz o deal no HU com o chinês, primeiro por ter mais fichas, ele propôs o deal e me ofereceu uma quantia maior, e insistiu bastante, achei que era bom pra mim e aceitei. E os valores finais se definiram ali.

Eu não sou um profissional que vive exclusivamente do poker, mas uso as premiações para fazer o custeio de todos os gastos que tenho para disputar os circuitos nacionais, sul-americano e o WSOP. Esse prêmio, em especial, representa para mim uma plataforma de suporte para buscar alcançar, o que é o sonho de quase todo jogador de poker, que é um bracelete da WSOP em Vegas. Além de pretender agora jogar uma grande série europeia.

Yi Lin e Amauri Grutka – LAPC Uruguai

Apesar de ser recreativo, você é jogador regular das grandes séries. Acredita que a experiência ajudou?

Com certeza. Jamais teria chegado a esse resultado no LAPC se não fosse pela experiência acumulada. Afinal nunca fiz nenhum coaching, o conhecimento é empírico mesmo. Para mim, a prática e a observação foram as fontes de conhecimento. Já cometi muitos erros, em muitos torneios quando se aproximava da reta final. E foi essa experiência acumulada que me ensinou e me fez evoluir.

E por já ter jogado com todos esses profissionais, lhes conhecia muito bem, isso me deu um suporte fundamental para chegar ao resultado. Eu estava preparado, e quando a reta final do torneio chegou, mantive a minha estratégia, em todas as mesas, que era jogar de igual para igual com todos os jogadores. E assim foi em todas as mesas.

Quando chegou a FT, eu estava muito confiante e à vontade. Então, a experiência foi fundamental para mim, para nos momentos decisivos não temer nenhum adversário, mas para também saber respeitar os grandes profissionais do poker que ali estavam, e esperar o momento e as cartas certas para entrar nas mãos.

Como foi sua trajetória durante o torneio? Chegou a ficar muito short?

O começo do torneio foi difícil pra mim. Chegamos em Punta na quinta de tarde, depois de fazer check-in no hotel fui pro jogo. Entrei no Dia 1C no sexto nível, com 50bbs, na primeira mão perdi 10bb. Jogavam-se 12 níveis e eu por entrar no sexto nível, tinha só mais seis para jogar, não recebi nenhuma mão de valor neste dia, as melhores foram um 88 e dois AQ. Joguei poucas mãos e passei pro Dia 2, com 124.500 fichas (17bb), muito short stack.

Começamos o Dia 2 em 355 players e eu estava entre os 15 últimos stacks do dia. A partir daí começou a brilhar. No primeiro big blind do dia, dobro com um shove em cima do raise do button. Passei dos 30bb, dai então comecei a receber mãos de valor, e o stack não parou de crescer, joguei poucas mãos no Dia 2, mas não perdi nenhuma delas nos oito níveis iniciais, algo que jamais havia me acontecido. Com isso, fiz um grande stack e passei para o Dia 3 em quinto de 72.

O Dia 3 foi de muita oscilação do meu stack, pois os potes eram grandes, mas sem ficar short, oscilei muito entre ter o stack na média ou com o dobro da média. No Dia 3, quando estava grande e iria ficar gigante perdi um all in pré-flop para a Team Pro canadense [Kristen Bicknell], onde o UTG agressivo abre, ela em MP shova reto com AK, eu no big com QQ pago e o UTG dá fold. Com um A no turn ela vence, e me deixa na média.

Mesa Final – Main Event – LAPC Uruguai

Pouco depois, com eu na média e o João Simão, que havia recém chegado à nossa mesa, grande de fichas, nos envolvemos num pote que termina em all in. Ele abre do UTG com 77, eu do small vou de 3bet com TT, ele paga. Vem QT7-A-2 no board. Eu aposto todas as streets e coloco ele em all in no River. Ele paga e eu fico gigante, encerro o dia em terceiro de 14.

No dia final, foram quatro eliminações rápidas, até ficar em 10, onde jogávamos duas mesas de cinco players. Esse foi um dos momentos mais delicados, pois ficamos por horas jogando em 10 sem a bolha estourar, ninguém errava, e precisamos de muita calma para manter o stack e alcançar a FT.

Na FT as jogadas seguiram fluindo. O começo foi ótimo, eu ganho três das quatro primeiras mãos disputadas e avanço o stack de 17KK para 35KK (tínhamos 113KK em jogo). E assim me mantive, com um grande stack até o fim.

Qual mão você considera decisiva para a vitória?

Um QQ que eu só completo do small, no 3-handed contra o argentino, ele abre raise de 3KK do big. Eu volto 7KK, ele dá outra e faz 17KK, eu vou de all in, e ele pensa daí muito, meio que se arrepende de ter colocado tantas fichas, mas paga com AJ.
Eu ganho essa mão e saio do terceiro lugar de fichas no 3-handed para o primeiro lugar em fichas e não mais perder o posto. E assim finalizar o torneio.

Como avalia a estrutura do Enjoy Punta del Este para torneios?

Eu gosto muito de ir lá, o local é um belo ponto turístico, com muitas atrações. A estrutura do casino é excelente, a área de torneio é ampla, é aconchegante e bem climatizada. A circulação é fácil. Falta a eles uma melhor qualificação nos seus dealers.

Espaço aberto para você fazer comentários e agradecimentos

Queria agradecer mais uma vez a minha família e aos meus amigos pelo apoio recebido durante os quatro dias de evento, para mim foi um orgulho trazer esse resultado para o Brasil, e para a região de Passo Fundo (RS). Foi também muito especial e uma honra ter compartilhado a FT com as feras brasileiras que ali estavam: Bruno Kawauti, João Simão e Lucas Scafini.

Só aprendi mais com esses montros! Novos e maiores desafios virão e é isso que move a todos nós jogadores de poker. Obrigado a todos os amantes do nosso esporte da mente, nos encontraremos nos panos! ‘Vamo que vamo’!!!

Amauri Grutka – LAPC Uruguai

 

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