João Simão já era um dos principais nomes da história do poker brasileiro, mas solidificou ainda mais sua posição ao conquistar dois braceletes da WSOP nos últimos dois anos, igualando Yuri Martins como bicampeão da série. A última conquista veio no Evento #53 deste ano, rendendo US$ 686.242, em um dia que entrou para a história do poker verde e amarelo.
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Após a conquista, João deu uma longa entrevista ao SuperPoker, na qual revelou a importância de duas mãos jogadas contra Joni Jouhkimainen na trajetória até o título. Além disso, o craque mineiro falou sobre a alegria de disputar uma FT ao mesmo tempo que seu grande amigo André Akkari, a emoção da torcida, sua relação com a mídia, a excelente fase do poker nacional e muito mais. Confira o papo na íntegra.
Existe alguma diferença de sentimento desse bracelete em relação ao primeiro, que foi conquistado online?
Com certeza esse tem um peso muito maior, mas o outro teve a vantagem de eu estar em casa com meus filhos. Estou doido para comemorar com eles ainda, este foi mais intenso, mas o outro foi mais legal por ter os filhos por perto, no calor do momento.
A intensidade de ter seus amigos aqui torcendo tão perto, o quanto isso mexeu com você? Influencia de alguma forma seu jogo e o do oponente?
Eu acho que sim, fico super feliz de ter o apoio da galera, amigos de verdade torcendo por mim. Isso me ajuda a me motivar, olhar para o lado e ver a galera ali perdendo a noite de sono, amanhã todo mundo no pano de novo, o pessoal podia estar dormindo cedo, se preparando para o jogo de amanhã, mas estavam aqui gritando e torcendo.
Isso conta pra caramba, sem dúvida nenhuma, você olha para o lado e fala ‘tenho que dar meu melhor’. Não existe eu não parar pra pensar um pouco mais em cada mão, para não cometer nenhum tipo de erro, e também coloca pressão nos adversários.
Praticamente o dia inteiro você foi o chip leader hoje (Dia Final). O quanto isso foi fundamental e encaixou no seu jogo?
Realmente a coisa andou de uma forma muito boa, apesar de ter perdido alguns potes, nunca foram potes que me deixaram em uma situação difícil. É ótimo porque tendo esse stack eu tive condição de poder selecionar melhor qual jogo jogar contra cada oponente, enquanto em uma situação short stack você acaba tendo que abraçar a opção que vier. O grande diferencial do meu torneio foi isso.
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Minha estratégia foi basicamente essa, jogar as mãos de Omaha contra os jogadores de Hold’em, e as de Hold’em contra os de Omaha, independente das minhas cartas. Joguei muito mais o adversário do que as cartas. Se eu tivesse ficado short, não poderia ter feito essa seleção, então teve um peso gigante com certeza.
Uma curiosidade dessa FT é que você eliminou o Dante Goya no quarto lugar. Ter entre quatro finalistas dois brasileiros, como foi?
O Dante é um mega jogador, sou fã dele, mas ali é cada um por si (risos). Quando ele ia all in contra outros jogadores eu torcia pra ele, realmente, porque é um cara 10, mas contra mim, vou ficar torcendo por mim mesmo (risos).
Em uma entrevista no passado você mencionou que a “Brazilian Storm” estava chegando na WSOP, essa é mais uma prova?
Com certeza. Já não sei quantas mesas finais aconteceram, eu tive a sorte de ganhar um torneio no Wynn, o Paulo Gini ganhou um no Venetian, o filho do Nando [José Carlos Brito] ganhou um torneio no Venetian. Então está tendo torneio em todos os cassinos e não é só na WSOP que está tendo a Brazilian Storm, realmente estamos invadindo Vegas.
Hoje tivemos também a mesa final do Akkari e eu vi a emoção dele, vocês deram um abraço, é bonito de ver. Quão legal foi você ganhar o bracelete e ele estar aqui do lado em uma mesa final?
É uma coisa muito mágica essa energia que eu e o Akkari temos juntos. Eu poderia ficar meia hora contando situações meio místicas de como nossa energia bate bem e acontecem coisas incríveis. Quando eu vi que ele estava na reta final no mesmo dia que eu e que ambos terminavam hoje, pensei que ia ser um dia histórico, para qualquer pessoa supersticiosa ficar com a pulga atrás da orelha.
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O Akkari para mim é um mentor no poker, na vida, empreendimentos, relacionamentos. É um cara que eu ligo para conversar sobre problemas, como pai, é um cara que é pai há mais tempo do que eu, a gente discute, vai muito além do poker. Agora poder dentro do que nos conectou, que foi o poker, vivermos um dia tão especial no mesmo momento é surreal.
Esse bracelete tirou um peso das suas costas? Você se cobrava muito por isso?
É engraçado, porque eu era uma das pessoas que provavelmente mais se cobrou esse bracelete. E de um tempo pra cá, talvez uns 15 meses, decidi mudar a minha relação com minhas profissões, alcancei alguns objetivos que tinha e decidi ficar mais na minha, curtir meus filhos, minha família. Saí de rede social, não quis renovar patrocínio, nem fechar com outra empresa, para levar uma vida mais calma, simples, previsível, com minha família. E na hora que decido isso, veio o holofote atrás de mim (risos). É engraçado, eu persegui e quando relaxei, a coisa aconteceu.
Te incomoda o holofote, a procura da mídia? Você prefere um estilo mais low profile?
Não é questão de incomodar, eu sempre lidei bem com isso, sempre gostei. Não me faz mal nenhum, muito pelo contrário. É legal a torcida, apoio, mensagens muito legais, mas isso desgasta, é uma energia muito intensa que te toma. Quando você desliga disso, a vida fica muito mais fácil, mais simples, você fica muito mais pleno nas coisas que está fazendo. É muito mais fácil visualizar o que realmente faz bem, o que realmente é para você e sua família do que é o do “personagem”, do jogador, o que quer que seja. Estou adorando e pretendo continuar assim, estou muito feliz em ser assim e pontualmente voltar para o holofote com vitórias.
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Para finalizar, pode mandar uma mensagem para seus fãs, que acompanharam a cobertura no SuperPoker?
Obrigado demais galera, é surreal. Estou revivendo isso que me distanciei nos últimos meses, era uma coisa louca. Eu ganhava um torneio que pagava US$ 2 mil, não importa, um prêmio qualquer, e tinha inúmeras mensagens, galera torcendo. Passava por problema pessoal, a galera vibrando, rezando, uma coisa louca. Poder reviver isso faz muito bem, lembrar o quão calorosa a comunidade brasileira é, então é uma gratidão gigante.
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