Entender o que é o range no poker e como os ranges de mãos se comportam é uma das principais ferramentas para tomar boas decisões nas mesas. O poker é um jogo de informações incompletas, onde é necessário analisar diversas variáveis para buscar o máximo rendimento. Por isso, o entendimento dos ranges é uma das habilidades mais importantes que um jogador precisa ter para ser bem sucedido.
O que é o range de mãos no poker?
O range é definido como a gama (ou o leque) de mãos que um jogador possui. Quando as cartas são distribuídas, o range dos participantes inclui todas as 2652 combinações possíveis de duas cartas. Conforme a jogada avança e os oponentes tomam decisões, é possível obter mais informações. Assim, se filtra as possibilidades para chegar a uma gama mais precisa.
A ideia não é tentar descobrir exatamente o que o adversário tem, mas sim chegar até ao provável range para poder tomar a melhor decisão. Para isso, é necessário refletir sobre as características do adversário, sua posição na mesa, os tamanhos dos stacks, o momento do torneio, entre outros fatores. Confira alguns dos pontos mais importantes a se considerar na hora de realizar essa filtração.
Fatores a considerar ao analisar um range
Características do oponente
Jogadores que entram em muitas mãos, logicamente, têm um range mais amplo. Por outro lado, aqueles mais tight tendem a jogar com uma seleção de cartas mais rígida. Além disso, há aqueles mais dispostos a arriscar um grande blefe no river, enquanto outros tomam linhas mais seguras.
Você já viu algum showdown do oponente, reparou se ele está sendo ativo na mesa ou raramente jogando? Existe algum tipo de pressão financeira por parte do oponente ou payjump envolvido? Esse tipo de informação pode ajudar muito, por isso é preciso estar atento no máximo de mãos possível.
Posição na mesa
Para quem estuda e se dedica ao poker, a afirmação é óbvia, mas vale lembrar: quanto mais perto dos blinds, maior o range de mãos jogadas. Na situação extrema, uma blind war, os dois competidores se envolvem com a maior parte de suas cartas. Um jogador no botão, por exemplo, deve ter um range muito amplo de open raise (aumentar a aposta após a ação ter rodado em fold). Isso acontece tanto pelo incentivo de roubar os blinds quanto, caso a mão vá para pós-flop, ter a vantagem de jogar em posição.
A vantagem de ser o último a falar não deve ser menosprezada, o que jogadores experientes sabem aproveitar. É por isso que ações do botão ou cutoff, por exemplo, não necessariamente representam tanta força. No outro extremo, está o UTG (Under The Gun), primeiro a falar pré-flop. Um raise vindo dessa posição representa um range mais forte. Combinando com a análise do oponente, ver um jogador tight aumentar do UTG é sinal de alerta que ele pode estar no “topo do range”.
Tamanho dos stacks
O tamanho (ou profundidade) dos stacks também influencia bastante quando tentamos definir a gama de mãos do adversário. A razão é simples de entender: um jogador com muitas fichas costuma se dar ao luxo de ver mais flops, como acontece na fase inicial de torneios.
Para aqueles que têm um stack menor, a recomendação é esperar por spots mais favoráveis (e menos especulativos) para investir suas fichas. Por isso, seus ranges são focados em mãos que fazem top pair forte, como Ax e Kx, e menos em pequenos conectores naipados (suited connectors), por exemplo. Aqueles que já estão muito short stack precisam se mexer. Assim, possuem ranges de mãos amplos, principalmente das posições finais da mesa.
Fase do torneio
Outro fator importante para tentar precisar o range de mãos do seu oponente é a fase do torneio. Nos períodos iniciais, os stacks médios são maiores e muitos jogadores estão dispostos a ampliar seu range, participando de mais mãos atrás da oportunidade de acertar um jogo forte e obter um grande stack.
No entanto, conforme o torneio avança, há variações nos ranges devido ao ICM, modelo matemático que define montantes financeiros para os stacks. Perto da bolha, por exemplo, aqueles com muitas fichas podem ampliar seu leque de mãos, pressionando stacks médios e pequenos, que diminuem o range em busca de garantir a premiação. Na reta final, com payjumps cada vez maiores, a dinâmica se repete.
Exemplo prático: definindo um range no poker
Com todos os fatores considerados, vamos a um exemplo apenas para ilustrar o conceito. Nos blinds 50/100, você tem 8.000 fichas, recebe JJ no UTG+1 e aumenta para 300. O cutoff, que é um jogador bastante ativo e tem um stack de 12.000, dá call. O small blind, jogador tight e com um stack de 15.000, dá raise para 1.000.
Sabendo que o jogador no cutoff está entrando em muitas mãos, jogará em posição e tem um confortável stack de 120 big blinds, o range dele nessa situação é amplo, incluindo pares pequenos, conectores naipados, àses naipados e cartas altas (broadway). Ao mesmo tempo, é improvável que ele tenha mãos premium como AQ, AK, QQ, KK ou AA. Isso porque teria aumentado a aposta, principalmente com stacks tão deep (muitos blinds).
Por outro lado, a seleção de mãos do jogador no small blind é mais restrito. Ela é composta em grande parte por mãos fortes, levando em conta que ele participa de poucos potes e jogará fora de posição. É claro que ele pode estar se aproveitando do call do cutoff para tentar um squeeze, com outro grupo de mãos. Ainda assim, suas ações até o momento indicam uma gama forte.
Pós-flop
Você e o cutoff decidem pagar, e o flop traz AQ2 rainbow. O small blind continua a agressão apostando dois terços do pote. Nesse momento, a pergunta a se fazer não é “o que o oponente tem?”, mas sim “como o meu par de valetes joga contra o range do adversário?”. Considerando a gama de mãos do jogador, há uma boa possibilidade de você já estar atrás, e ainda tem outro adversário para falar depois.
Você folda e o cutoff paga. Com esse call, é possível imaginar que o range dele deixe de ter os pares pequenos (com exceção do 22) e os conectores naipados menores, sobrando àses e mãos com cartas altas, talvez com possibilidades de backdoor. A cada street e ação dos adversários, o raciocínio precisa ser repetido e assim é possível afunilar as possibilidades.
Tipos de ranges no poker
Buscando facilitar a definição dos ranges, existem alguns tipos principais citados pelos jogadores, com termos que você pode acabar ouvindo por aí em debates de mãos. Mais importante do que saber nomes e definições é entender como as diferentes gamas se comportam em cada situação.
Linear
O Linear, como o próprio nome diz, é um que se desenvolve linearmente, começando a partir do AA. Assim, é um range que começa com mãos fortes e vai se expandindo sem “buracos”, ou seja, sem pular mãos. O quanto essa gama de mãos se expandirá vai depender de diversos fatores, como mostrado anteriormente.
Polarizado
No caso do Polarizado, o que acontece é o oposto. Ao invés de se expandir de forma linear através das mãos, essa game possui um dois polos, ou seja, mãos muito fortes (o chamado topo) e mãos muito fracas, excluindo as de força média.
Condensado
O Condensado é aquele composto de mãos médias, excluindo as mãos mais fortes da gama e também as mais fracas.
Capado
O termo “Capado” é usado para definir um range que não possui as mãos do topo, ou seja, as mais fortes. Por exemplo, um jogador abre do UTG, um adversário dá call do cutoff e o botão também paga. Nesse caso, pode-se dizer que o range do botão é capado, pois se tivesse as mãos do topo, o jogador teria aumentado a aposta.
Como escrever e interpretar um range?
Você deve ter percebido, ao pesquisar sobre o tema, que a maioria deles são definido através da tabela de mãos, onde algumas das mãos aparecem pintadas de cores diferentes. Esse método é o mais utilizado porque facilita a visualização das gamas e de suas interações.
Por outro lado, como se escreve um range de mãos e como interpretar essa escrita? Você pode ler, por exemplo, que a gama de uma certa situação é 77+, A9s+, AJo+, mas o que isso significa? O símbolo “+”, nesse caso, quer dizer que a seleção contém aquela mão especificada e também as mais fortes do que ela. Voltando ao exemplo dado, esse range teria 77, 88, 99, TT, JJ, QQ, KK, AA, A9s, ATs, AJs, AQs, AKs, AJo, AQo e AKo.
Para se evitar de toda hora escrever todas essas mãos, os jogadores utilizam o símbolo “+”, algo como “daqui pra cima”. No entanto, é fácil perceber que nem sempre essa escrita pode ser utilizada. No caso de um capado, por exemplo, seria um erro usar 77+, já que as mãos do topo, como QQ, KK e AA não estão presente na seleção.
Conclusão:
Já deu para entender qual é a ideia: somar todas as informações que você tem sobre os adversários para chegar a uma gama de mãos precisa. A partir daí, é analisar qual a equidade da sua mão contra essa gama. Ou seja, qual a sua chance de ganhar o pote ou fazer o outro foldar. O que pode parecer uma habilidade sobrenatural é na verdade um processo lógico. À primeira vista, soa complexo, mas fica mais simples e automático a cada partida que você jogar.
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