Quando foi eliminado na sétima posição do Evento #68 (US$ 3.000 No Limit Hold’em) da WSOP 2017, Vinicius Silva fez história. A colocação não representou apenas mais um grande resultado para o Brasil na temporada da série, pois foi apenas a segunda vez na história da WSOP que um jogador deficiente chegou à mesa final. O americano Garrett Greer, que ficou tetraplégico após um acidente, foi vice-campeão no Millionaire Maker de 2016, sendo o primeiro deficiente mesa finalista.
Vini nasceu com paralisia cerebral, na cidade de Campinas (SP), em 1985. A paralisia afetou o lado direito da parte motora do jogador, que teve uma infância de muita luta e constantes sessões de fisioterapia, terapia ocupacional, fonoterapia, hidroterapia e equoterapia. Ele enfrentou com coragem todas as dificuldades e, hoje com 32 anos, está casado há 10 e possui três filhos, de idades 11, 10 e 7 anos. “Hoje em dia, a deficiência não me atrapalha em nada. Tudo que uma pessoa ‘normal’ faz, eu também faço”, contou.
Presença frequente nos grandes circuitos de poker, Vini é daqueles jogadores queridos por todos na comunidade brasileira e ainda incentivou a mãe, Beth Silva, a também fazer parte dessa paixão. Ela já chegou, inclusive, a ganhar um Ladies Event do BSOP. Nesta temporada do Campeonato Brasileiro, Vini já fez bonito na etapa de Recife, onde conquistou a quarta colocação no torneio de Heads-Up. Ele é um exemplo da inclusão promovida pelo poker e da importância que o jogo pode ter, muito além da financeira.
A pedido do SuperPoker, Vini escreveu sobre a sua paixão pelo poker e o ótimo desempenho na WSOP. Confira na íntegra.
“A minha relação com o poker é super importante, pois nesse esporte encontrei um jeito de ser aceito e que eu possa fazer sem nenhuma dificuldade. Aprendi a amar tanto que acredito na minha evolução a cada dia!
Este ano, minha reta na WSOP 2017 foi muito curta, com 8 torneios, um de $ 3 mil, para mim o segundo mais caro depois do Main Event. Isso porque esse ano veio toda minha família, eu trouxe as crianças e como só poderiam vir nas férias escolares, eu cheguei em Las Vegas dia 03/07. Joguei um torneio dia 4, mas não tive muito sucesso, e o meu segundo torneio foi o de 3K. Parece que eu já sabia que ia ser muito bom, porque no dinner break do dia 1 eu estava com o Marlon, um jogador de SP, e eu disse assim para ele “Marlon eu vou chegar na FT” (risos).
Quando começou o torneio, eu estava muito tranquilo. Passei do dia 1 muito bem, com 60bb, e dia 2 foi bem tranquilo também! Agora o dia 3 foi muito complicado, estava na mesa com Daniel Negreanu e Elky, o Daniel com aquele small ball e a leitura dele, que é chata de se jogar contra. Mas eu passei de boa, pois sabia que eu ia chegar à FT.
Ver os Brasileiros lá na torcida por mim é emocionante demais, ver pessoas especiais como minha mulher e jogadores que eu admiro como torcedores é fod*! Infelizmente, peguei uma mão A9 no UTG eu abro 2.5bb, o big blind me 3beta e eu 4beto all in. Ele pensa uns 3 minutos e paga com KK! Ninguém entendia porque eu fiz essa jogada, mas eu já tinha um histórico na mesa semifinal.
Isso para mim foi uns dos momentos mais especiais da minha vida, só perde para o nascimento do meu filho e meu casamento! Agora é seguir jogando do jeito que joguei esse torneio para estar chegando nos próximos torneios internacionais e nacionais.”
