Em mais uma edição do “Tá na Mão Online”, dessa vez é o craque João Bauer, Campeão Brasileiro de Poker de 2015. O profissional goiano disputava a reta final do Main Event do SCOOP no PokerStars Espanha quando recebeu AA.
O flop todo de copas ainda deixou Bauer no nut flush draw, mas a ação do oponente colocou o brasileiro pra pensar. Ao fim, o jogador optou pelo call, decisão que hoje considera como a incorreta para a mão. Confira abaixo a explicação completa do craque.
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“A situação que eu vou contar é uma reta final do €250 Main Event do SCOOP do PokerStars Espanha, blinds 200.000/400.000 e ante de 50.000. Estou no meio da mesa, acabo subindo com 45, 46 blinds, um AA com A de copas. Tomo call do cutoff, que tem mais fichas do que eu, e tomo call do big blind com 30 blinds.
O flop vem 874, três cartas de copas, eu tenho AA com A de copas, acabo c-betando 1.200.000 no pote que tem 3.000.000, e o cutoff vai all in de 40 blinds efetivos. O big blind folda, e a ação volta para mim.
Aqui é uma situação, ao meu ver, muito difícil. Restavam 40, 50 pessoas nesse torneio, já era Dia 2… É uma situação difícil porque você tem que pensar nos ranges que esse cara acaba me shovando ali. Mas antes de pensar no range, vamos pensar em qual é o nosso objetivo.
A partir do momento que a gente faz esse size de 1.200.000, o nosso objetivo é tomar call de pelo menos um dos oponentes. O maior EV desse spot é quando a gente toma call de mãos piores, e é por isso que a gente faz esse size de 1.200.000 em um pote de 3.000.000.
A partir do momento que o cara shova, o range dele fica sendo um range muito restrito, e aí vamos pensar em que range restrito que poderia ser isso. Acho que, ocasionalmente, vai ter alguns flushes baixos, que ele flatou ali, mas eu acho que a maior parte do range dele vai ser concentrado em trincas, né? Trinca de 8, trinca de 7, trinca de 4… Querendo defender essa equidade com um range muito forte.
Então, eu estou basicamente jogando contra trincas, ocasionalmente contra alguns flushes baixos, e o que me fez pagar é porque eu achei que, ocasionalmente, ele poderia ter, também, alguns TT, JJ, QQ, KK, pelo fato de ter o jogador 3 ali, que era o small blind, com quatro blinds.
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Ao meu ver, ele poderia ter fletado esses pares esperando que o cara que tivesse quatro blinds entrasse. No caso, tinha bounty, era um bounty grande na cabeça do jogador 3, próximo de €1.000, €800, algo assim. Então eu imaginei que, ocasionalmente, ele teria esses pares também, e aí ficaria muito difícil foldar esse AA, principalmente tendo o A de copas.
É uma situação difícil porque se eu tivesse um AA sem o A de copas, eu com certeza não cogitaria dar o call, eu foldaria. Mas o fato de ter o A de copas me dá tranquilidade de que eu não estou drawing dead na mão caso, por exemplo, ele esteja já com flush no flop, e isso me incentivou a acabar indo de call.
Mas revendo a mão aqui, hoje, se eu fosse jogar ela novamente, eu acho que eu conseguiria encontrar spots melhores para colocar todos os meus 45 blinds no pote, do que esse. É uma situação que, quando ele shova, ele acaba shovando um range muito restrito, e pelo fato de eu não ter notes específicos que ele poderia fletar ali o JJ ou QQ ou KK, eu estava na mesa há uma órbita só, eu deveria ter foldado esse AA pro shove dele.
Claro que é muito difícil foldar ali quando você está ingame, com a mão no mouse… Online a gente não tem outros notes que se fosse um jogo ao vivo né? O tempo, por exemplo, ele demorou para pagar pré-flop… Poderia me dar algumas informações de que tipo de range ele cogitou flatar ao invés de 3-betar.
Essa informação eu com certeza teria se estivesse jogando ao vivo, e online é mais difícil eu obter essa informação, eu não vejo a expressão do meu oponente, se ele cogitou flatar em pré-flop ou não. Então ao vivo eu teria uma noção muito mais clara dessa mão, mas online é mais difícil, e ali no calor do momento eu acabei optando pelo call, mas revendo a mão hoje, eu com certeza prefiro o fold, esperar uma melhor oportunidade para colocar os meus 45 BBs no pano.
Acabou que o resultado da mão eu dei call, o vilão tinha KQ de copas, que era um dos ranges que, eu não imaginaria que ele jogaria dessa maneira né, porque ele tinha um flush alto. Eu cogitaria que a maior parte do range dele viria de trincas mesmo, ocasionalmente, alguns flushes baixos, KQ de copas eu não esperava mesmo, mostrando que o cara era realmente um jogador bem recreativo, e que possivelmente não fletaria o JJ ou QQ ou KK, que era o que eu estava querendo encontrar no range dele. Então acabei pagando, ao meu ver, errado, e me custou todas as fichas do torneio, caindo ali nessa reta final no PokerStars Espanha.”