Durante o auge dos cash games high stakes no poker online, antes da Black Friday, um nome brasileiro se destacava entre os grandes craques. Sob o nick “verve.oasis”, Gabriel Goffi era o único jogador do país que frequentemente enfrentava alguns dos melhores jogadores do mundo em mesas caras de cash game, em que os blinds podiam chegar a US$200/US$400.
Apesar de focar mais no jogo online, Goffi também tem no currículo um título de Main Event do BSOP. Na etapa de Fortaleza, em 2012, ele superou Joel Oliveira no heads-up e se sagrou o grande campeão, levando o prêmio principal de R$ 130.000. Após uma bela trajetória nas mesas, no entanto, ele decidiu abandonar o poker profissional e se aventurar na vida de empreendedor.
Foram anos longe das mesas e do BSOP, até a chegada da histórica centésima etapa da série. No BSOP100, Goffi participou da festa ao jogar o Torneio dos Campeões e sentir novamente a emoção de jogar poker. Além disso, aproveitou para rever grandes amigos, que fizeram parte de sua juventude e com quem já havia dividido as mesas diversas vezes.
Em entrevista ao SuperPoker, ele falou sobre a alegria de participar do evento e explicou como levou habilidades aprendidas no poker para sua carreira como empreendedor.
Como é participar dessa festa para você, que fez história no poker?
É muito especial, sentimento nostálgico de encontrar grandes players, grandes amigos. Minha vida, a partir dos 19 anos, foi poker, 24 horas, todos os dias, e eu aprendi a ser um empreendedor com o poker. Então é muita gratidão, muito legal.
Como foi sentar em uma mesa de poker, algo que você não fazia faz tempo?
Fazia alguns anos já, mas eu acho que é o mesmo sentimento, de você pensar o quanto de aprendizado existe na pegada de uma carta, na pegada de uma ficha, na hora que você olha para um adversário e pensa o que ele está pensando. No Torneio dos Campeões, eu comecei a olhar em um cenário mais macro de entendimento, no seguinte sentido: olha essa empatia que está acontecendo aqui, eu estou entendendo o que ele está pensando e ele está pensando no que eu estou pensando. Isso faz com que, num cenário macro, eu veja que é isso que está acontecendo na vida do empreendedor, com a sua audiência, com as pessoas que se relaciona, isso acontece na vida de qualquer profissional. Então poker é a escola da vida mesmo.
Quais foram as principais lições que você tirou de sua trajetória no poker para a vida de empreendedor?
Hoje, eu lidero uma start-up com mais de 40 pessoas, a gente impacta milhões de pessoas nas mídias, e a grande essência de todo ensinamento que eu busco é um entendimento de intenção, porque você faz o que você faz, e como isso se conecta no longo prazo. O poker é totalmente longo prazo, tive que aprender na marra e entender que jogar 30 mil mãos no mês era minúsculo perto de um longo prazo de um milhão de mãos onde eu poderia me tornar vencedor sendo um profissional. Então você transporta isso para a vida, que é um mundo mutante, cheio de informações incompletas, assim como o poker, em que você tem que conseguir assimilar uma camada gigantesca de informação e tomar uma decisão em dez segundos, o poker me ensinou muito isso.
Eu entendi um formato de lifestyle em que você consegue acoplar, por exemplo, como pensar sobre a alimentação a longo prazo, como eu entendo a longevidade, ao mesmo tempo em que entendo como ela pode me gerar o máximo de energia, para gerar mais resultado. O poker, se eu falar um monte de coisa, o adversário não vai me falar nada, vou perder ou ganhar US$ 50 mil no fim do dia. E na vida real eu trato da mesma forma, se eu não estiver preparado para me comunicar, para tomar decisões, no final do dia eu vou perder. Então enfim, o poker me troxe uma noção de longo prazo, de resiliência, de entendimento do outro, empatia, de tomada de decisão, saber lidar com o prejuízo, com injustiça, e tudo isso é o que acontece no mundo. Então quando você aprende isso na marra e transporta para a vida, você começa a ter um diferencial.