Foi um trabalho de décadas introduzir o poker como um esporte da mente. No final de 2024, a IMSA (International Mind Sports Association) reconheceu oficialmente o mais nobre dos jogos de cartas como um jogo de habilidade, colocado lado a lado com outros como xadrez.
No entanto, o desconhecimento da atividade ainda gera declarações infelizes. Nesta terça-feira (17), o jornal “O Estado de S. Paulo” colocou o poker como um jogo de azar. O ocorrido foi divulgado na coluna de Alice Ferraz, através do depoimento do psiquiatra Rodrigo Machado.
“Tentam fazer um lobby a favor do poker, dizendo que é um jogo esportivo, mas, na verdade é um jogo de azar”, afirmou o profissional do Programa de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP.
Ele complementou afirmando que existe um grande risco de dependência na atividade. Para exemplificar, contou que todas as semanas trata pessoas assim. “A procura é cada vez maior, a ponto de chegar a ter filas longas de espera”, afirmou.
Reação adversa da comunidade

Após a publicação da coluna, as redes sociais do jornal postaram um carrossel com informações do texto. Porém, a comunidade do poker brasileiro não reagiu bem a comparação feita pelo médico e inundou a postagem com comentários.
Sendo assim, um dos mais contundentes foi Bruno Foster. O craque tupiniquim é conhecido por ser o único do esquadrão verde e amarelo a atingir uma mesa final do Main Event da WSOP, em Las Vegas. O feito ocorreu em 2014 e ele foi eliminado na 8ª posição.
“Sou jogador profissional de poker há 22 anos, sabe o quanto me dói na alma ver um veículo de comunicação tão ‘poderoso’ em alcance, dizer que algum doutor alguma coisa assumir que poker é um jogo de azar? Essa é uma das maiores atrocidades que já li sobre a minha profissão”, escreveu Foster.
A dupla de embaixadores do PokerStars, André Akkari e Rafael Moraes também manifestaram repudio. “Vocês são reflexo do preconceito e da falta de educação que nosso país sofre”, afirmou o “GM_Valter” do online.
“Enquanto o Brasil não tiver educação estaremos fadados ao fracasso”, publicou André Akkari que também seguiu a linha do amigo e colega no site da espada vermelha. “Todas as vezes que vocês pensarem que não evoluímos por burrice e falta de competência política, lembrem que é um reflexo da nossa sociedade”.
Opiniões contundentes

Ademais, órgão oficiais como a WPF (World Poker Federation) também escreveram na publicação. “A Federação Mundial de Poker está à disposição para dialogar e esclarecer, com base em dados e estudos internacionais, por que o poker não é um jogo de azar”.
Entretanto, o empresário e Co-CEO do BSOP, Devanir Campos, preferiu fazer uma curiosa comparação sobre o risco de vicio no poker. “O fato de existir pessoas que desenvolvam compulsão pelo poker não o transforma em jogo de azar. Ou por acaso comer chocolates compulsivamente é jogo de azar?”
Por fim, vale destacar o recente vencedor da WSOP, Aloisio Dourado. Dono do 39º bracelete brasileiro de campeão mundial, cobrou um melhor trabalho da colunista. “O mínimo de pesquisa e estudo sobre o poker seria suficiente para entender que não é um jogo de azar”, escreveu.