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EXCLUSIVO! Richard Roger, o brasileiro que foi longe na WSOP e sonha com o futebol

Nascido em Suzano, na região metropolitana de São Paulo, o jogador de poker chegou ao dia 8 do Main Event e faturou US$ 360 mil sendo eliminado em 24º entre as 9.735 entradas

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© Richard Roger (Foto: Regina Cortina/PokerNews e Reprodução Instagram @richard_roger_10)

O Main Event da WSOP é certamente o maior torneio de poker do mundo. A entrada de US$ 10.000 (a mesma desde a década de 1970), os longos blinds de 2 horas, uma imensidão de praticantes, além de uma bolada surreal de US$ 10 milhões para o primeiro colocado são alguns dos motivos que tornam tão especial esta disputa.

Sendo assim, na edição de 2025, o melhor brasileiro foi Richard Roger. Aos 24 anos, ele possui uma carreira meteórica no poker, mas o foco principal dele é outro. Morando nos Estados Unidos, o sonho dele é se tornar um profissional do futebol.

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Ademais, ele atualmente disputa ligas universitárias e semiprofissionais na Terra do Tio Sam, mas foi no poker que conseguiu uma grande glória. Richard foi o único brasileiro no dia 8 do Main Event da WSOP, sendo eliminado em 24º entre as 9.735 entradas e recebeu US$ 360 mil.

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O jogo vem de família

Richard e o irmão (Foto: Reprodução Instagram @corrakoruivo)

Entretanto, o poker está intrínseco na família dele. Richard é irmão de Roger Freitas, campeão do último Main Event do KSOP São Paulo. Conhecido pelo apelido de “Ruivo”, o jogador é também um treinador de corridas de rua.

Dessa forma, o irmão sempre foi um grande incentivador no esporte da mente. Ele inclusive investiu em Richard durante toda a série. Com isso, os dois acabaram lucrando bastante. Essa renda ficou ainda maior porque a vaga no Main Event veio através de um torneio satélite.

Tudo isso foi contado em uma entrevista feita um dia depois da eliminação de Richard no Main Event, na véspera da mesa final do torneio. Através de áudios gravados em trocas de mensagens, o jogador natural de Suzano (região metropolitana de São Paulo) falou sobre como foi este momento e a persistência em se tornar jogador de futebol.

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Confira a entrevista completa com Roger Freitas:

Richard Roger foi o melhor brasileiro no Main Event da WSOP 2025 (Foto: Eloy Cabacas/PokerNews)

SuperPoker: Como você conheceu o poker? Quem te apresentou o jogo? Como foi o começo, no online ou no live?

Richard Roger: Eu conheci o poker assistindo o meu irmão jogar. Ele estava no computador, jogando no PokerStars e eu achei interessante, gostei e pedi para ele me ensinar. Depois disso, eu acabei gostando muito, né?

Foi um jogo que achei muito legal, divertido, aí meio que veio a paixão pelo poker desde pequeno. Depois, quando eu tinha 18 anos, estava no último ano ensino médio, decidi que iria virar profissional, fazer dinheiro para conquistar outro sonho: jogar futebol.

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Naquele ano eu me dediquei muito, o meu começo foi uma mistura de online e live, jogava os dois. Eu não tinha bankroll nenhum, jogava só os torneios baratinhos, de R$ 30, R$ 50 nos clubes que tinham aqui perto de casa.

Eu vou falar os três clubes que eu mais joguei, se puder citar, vai ser importante para eles. Jogava no HCS, clube do Bolinha, no SPS, que é o Suzano Poker Series, da cidade que eu moro e no Palace Poker Mogi.

Todo começo é sempre complicado

Richard Roger (Foto: Reprodução Instagram @richard_roger_10)

O começo foi bem difícil, porque chegou uma hora que eu quebrei. Eu já não tinha bankroll, mas fiquei quebrado, acabei zerando. Não tinha nada de reais para jogar live e nem dólar para jogar online.

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Eu vinha de uns cinco meses mandando inscrição para times e tal, mas não era aceito, porque não tinha Shark, nem nada. Eu tinha decidido ficar uns dois anos tentando o poker, se não desse certo eu arrumaria outra coisa. Estava quase abandonado o jogo.

Nesse momento fui aceito para a Cardroom Poker Team. Começou a história de novo, virei profissional online, né? Só jogava assim, direto, praticamente 24 horas por dia. Me dediquei muito neste momento ao online.

Passei a estudar certinho, com aulas e tudo mais. Também tive um começo muito bom, depois que eu entrei praticamente não tive nenhuma downswing. Se tive, foi bem pouco, dali para frente foi só profit para cima.

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O sonho de jogar futebol

Richard Roger (Foto: Reprodução Instagram @richard_roger_10)

SP: Você foi morar no Estados Unidos para jogar futebol. Como foi essa mudança? Você já falava inglês fluentemente? Qual posição você joga? Qual é a liga que você joga?

RR: Bom, sobre essa mudança foi tranquilo para mim. Na verdade, no começo foi um pouquinho difícil, né? Eu estava fazendo aula de inglês antes, não falava muito bem, mas já estudava há um tempo a língua.

Estava confiante, mas quando cheguei na faculdade para jogar – e claro, para estudar – passei a ter um pouco de dificuldade. Era difícil entender a galera falando, porque eles falavam muito rápido. Demorei umas três semanas para me adaptar, depois foi tranquilo, para conversar.

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Eu jogo de volante e de meio-campo também. Ano passado estava jogando a liga cristã, que é uma das mais fracas por aqui. Mas foi onde consegui uma oportunidade no ano passado. Só que no verão aqui, que é o “summer”, eu jogo em uma liga chamada UPSL.

Essa liga é como se fosse uma quarta divisão do futebol nos Estados Unidos, é um nível semiprofissional. Ou seja, em questão de futebol a liga da faculdade é fraca, mas a liga do verão é mais forte.

SP: Os seus companheiros de time sabiam que você joga poker? Eles acompanharam a sua reta no Main Event, recebeu mensagens?

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RR: Sim, a maioria dos meus companheiros de time sabem que eu jogo poker. Muitos deles não entendem nada do baralho, mas estavam acompanhando, torcendo. Isso é muito bacana e recebi várias mensagens de todo mundo.

Foram várias mensagens mesmo, inclusive de muita gente que eu nem conheço também. Meu Instagram estava uma loucura. Foi muito bacana todo esse carinho das pessoas, um momento diferente que nunca vou esquecer.

Atletas no poker e o sucesso da família

Richard e o irmão (Foto: Reprodução Instagram @corrakoruivo)

SP: Muitos atletas de esportes convencionais se destacam no poker. Talvez seja porque eles têm o espírito de competitividade extremamente forte. O que você pensa sobre isso? Acha que a sua experiência no futebol te ajudou mentalmente de alguma forma?

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RR: Sim, acredito que sim. Muitas pessoas que vêm de outros esportes e começam a praticar poker e eles possuem um “plus”. Penso que mandam bem porque já estão nesse mundo, conhecem a competitividade e possuem a garra para querer ganhar.

Até mesmo os recreativos que vêm jogar eles estudam para ganhar, ter mais chances. Sobre a minha experiência no futebol, acho que não foi um fator decisivo para que eu me desse bem, até porque estou no poker desde muito cedo.

O que me ajudou mesmo a chegar aqui, além da “runnada”, foi claro a experiência que eu tinha jogando. Durante três anos fui um profissional do poker, por isso toda essa bagagem, a base muito boa e sólida, foram o que me auxiliaram no comportamento na mesa e nessa reta.

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SP: Esse ano tem sido muito bom para a sua família no poker. O seu irmão ganhou o Main Event do KSOP de forma arrasadora, ele te ajudou muito nos longos dias durante o Main Event? Vocês conversavam sobre mãos depois dos dias?

RR: Exato, esse ano tem sido muito bom, tanto para mim, quanto para o meu irmão. Na verdade, mais para ele, porque eu acabei não jogando tanto assim. O ano dele está realmente excelente, no online e no live com essa cravada agora no KSOP.

E sim, quando ele não estava jogando, sempre ficou torcendo. Me ajudava muito no Main Event, se eu estivesse precisando de alguma coisa. Sobre as mãos, a gente discutia bem pouco, mais na hora de dormir mesmo, falávamos um pouco, mas não debater as mãos mesmo.

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O torneio satélite e a postura no Main Event

Richard Roger (Foro: Regina Cortina/PokerNews)

SP: Você se classificou para o Main Event por um satélite, como foi? Era online ou live? Você também não estava jogando pelo prêmio total, mas por 50% porque dividiu com o seu irmão. Pode revelar como foi esse acordo?

RR: O satélite foi presencial, foi aqui no “Cassino Landmark”, eles sempre organizam. Era um satélite de US$ 135 que se ganhava uma vaga para um outro, esse com entrada de US$ 1.100, que aí sim dava uma vaga de US$ 10.000 para o Main Event.

Mas sobre o acordo com o meu irmão, sim eu estava jogando por 50%. Esse foi o “deal” que fizemos antes da série começar. A gente combinou de vir para Las Vegas e ele falou que iria me “cavalar” em vários torneios por aqui e o lucro iriamos rachar, né? Até por isso em todos os torneios sempre tive 50%, porque não joguei só o Main Event.

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SP: Durante as mãos que você disputou na mesa da televisão foi possível ver uma postura muito interessante sua. Você cruzava os braços sobre o peito e tampava o pescoço com as mãos. Foi proposital? Como desenvolveu isso?

RR: Sim, era proposital. Todas as mãos que eu jogava eu fazia isso para tentar não passar nenhum “tell”. Penso que se eu ficar normal, assim, fico meio desconfortável, com medo de passar alguma informação para os adversários.

Por isso, eu sempre fazia a mesma postura, em todas as mãos que fosse jogar. A ideia era manter o mesmo ritmo, entendeu? Não passar nenhum “tell” diferente assim.

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A eliminação de Pedro Padilha

Richard Roger e Pedro Padilha (Foto: Regina Cortina/PokerNews)

SP: Como foi a conversa com os outros brasileiros que chegaram na reta final do torneio, qual o papo entre você e o Padilha depois que você acabou eliminando ele?

RR: Foi tudo tranquilo, mas acabei não conversando muito com a galera ali. Foi mais aquele papo normal: pô boa sorte, mano, GL aí, vamos para cima.

E na mão com o Padilha, eu falei para ele que tentaria fazer o melhor com as fichas dele. Levar o Brasil para o topo. Estou muito agradecido pela oportunidade, por esse dinheiro que veio, vai me ajudar muito, sou muito grato a Deus.

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Só que também estou meio triste, porque o Padilha é um monstro do jogo. Ele era um dos caras que tinha mais chances de colocar o Brasil no topo. Antes eu estava sem pressão nenhuma, mas quando eliminei ele, a pressão veio toda para mim.

Isso não me incomodou nenhum pouco no meu jogo, continuei fazendo o mesmo que estava sendo feito. Tinha um stack muito bom, eu poderia ter ido mais longe no dia 8 se tivesse sentado nas fichas, jogado mais “tight”, certeza que estaria na mesa final.

O problema é que não vou fazer isso, além da “runnada”, cheguei até lá com um estilo de jogo. Não iria mudar isso naquele momento. Do mesmo jeito que foi ruim, poderia ter sido bom, ter pego muitas fichas, entrar na mesa final como chip leader.

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Mas acontece, né? Fiquei meio triste porque acabei não conseguindo levar o Brasil lá no topo. E ainda eliminei o cara que tinha mais chances de fazer isso acontecer. Só que faz parte, o poker é assim, acontece.

Quem vai ganhar o torneio e o futuro

A mesa final (Foto: Spenser Sembrat/PokerNews)

SP: Qual dos jogadores finalistas do Main Event da WSOP você acha que é o melhor? E quem você acredita que vai ganhar? Qual o seu palpite?

RR: Para mim o melhor que está ali é o Kenny Hallaert, o belga que é Team Pro do PokerStars. Eu joguei contra ele, com alguns dos outros também, mas acredito que a maioria dos regulares foram eliminados no dia 8. Eu via a mesa final e parece que não tem tanto cara bom, assim.

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Vi uns dois ou três nomes bons, talvez quatro. A minha torcida é para a única mulher que tá lá, como é mesmo o nome dela? Acabei esquecendo agora (Leo Margets). Então, a torcida é para a espanhola, ela tem um jogo bom, é agressiva, acho que vai ir bem.

Agora, se eu pudesse escolher alguém… Claro, a minha torcida é toda dela, gostaria que ela cravasse o torneio, mas acho que vai ser o Kenny mesmo, o Team Pro do PokerStars.

SP: Pretende seguir o sonho de ser jogador de futebol, ou agora vai se dedicar ao poker?

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RR: Essa é a pergunta que todo mundo faz, mas a minha resposta é sempre a mesma. Eu poderia ter cravado, puxado os US$ 10 milhões, mas nada iria mudar. O plano seguiria sendo o mesmo até o final.

Entrei no poker só para ganhar dinheiro, me estabilizar para ajudar no meu sonho de jogar futebol. Venho de uma família humilde, o meu plano era poder viajar, ir para Europa, tentar a vida na bola por lá.

Para isso eu precisava de dinheiro e foi assim que entrei no poker. Pelo dinheiro e pela paixão pelo jogo também, já que era algo que sempre gostei de fazer. Então, nada vai mudar, vou continuar seguindo meus sonhos no futebol.

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Sei que já estou velho, tenho 24 anos, mas também tenho certeza que com fé, uma hora a oportunidade vai aparecer e vou estar preparado para mostrar meu potencial. Futuramente, daqui uns 4 ou 5 anos, estarei contando essa história aí e vai ser muito bacana.

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